segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Preciosa

Por Géssica Valentini

Nova York, 1987. Claireece Preciosa Jones tem 16 anos e está grávida pela segunda vez. Como se não bastasse a maternidade precoce, ela é negra, obesa e pobre, em um espaço cercado por preconceito.

Preciosa – Uma história de esperança, é mais do que um filme sobre dramas humanos, é o próprio drama humano revelado em filme.

Baseado em fatos reais, ganhador do Oscar de Melhor Roteiro e Melhor Atriz Coadjuvante, nos coloca cara a cara com o obscuro, a realidade de muitos lares.

Na escola, Preciosa (Gabourey Sidibe) é muda. Em casa, onde deveria expressar seus anseios e receber amor, é calada, seja pela violência do pai (Rodney Jackson) ou pelas agressões da mãe (Mo’Nique).

A história perpassa qualquer compreensão sobre o sentido de ser “humano”. A primeira filha de Preciosa tem Síndrome de Down e por isso, no filme, é chamada de “Mongo”, a abreviação de Mongolóide.

Ao ser expulsa do colégio por estar grávida novamente, Preciosa é encaminhada a uma escola alternativa. É nesse ambiente ela se refugia na própria imaginação: enquanto o pai a violenta, ela está num palco, sendo saudada por dezenas de fãs. Enquanto a mãe a humilha, ela se protege no sonho de que seu príncipe está vindo buscá-la.

Prepare-se para muitas lágrimas, pois as revelações são contínuas. Cena a cena, refletimos sobre a importância da família e os inúmeros casos que sequer imaginamos. Uma realidade contraditória para uma sociedade que faz projetos para instalar máquinas de camisinha nas escolas e, ao mesmo tempo, para criminalizar a palmada.

As crianças aprendem a somar e subtrair números, mas não a multiplicar bons modos e dividir as pequenas e grandes coisas. Aprendem o português, a matemática e as ciências dos livros, mas incluem cada vez mais palavrões à nossa língua, fazem contas das brigas e esquecem o sentido da ação e reação na natureza.

Por que não investimos em educação para a vida? Quem sabe não existiriam tantas Preciosas... E quem sabe esta seja a essência do filme, que além de tudo nos ensina que uma longa jornada começa com um único passo e muita esperança...

A origem


Por Géssica Gabrieli Valentini


“Qual o parasita mais resiliente?” – pergunta o personagem Cobb. “Uma ideia” – ele mesmo responde. Uma simples ideia pode construir cidades, transformar o mundo e mudar leis!

O filme “A Origem” parte desta inquietação, do intangível, ou seja, um pensamento, que não costumamos dar muito valor, mas que pode não ter preço.

No filme, o diretor Christopher Nolan, consagrado por produções como “Batman, o cavaleiro das trevas” e “O Grande Truque”, transforma o complexo e intrigante conceito de pensamento em algo que pode ter dimensão de uma catástrofe ou de uma revolução.

Na trama, o objetivo grupo de espiões industriais, liderados por Cobb (Leonardo DiCaprio), não é invadir os cofres ou escritórios dos concorrentes, mas suas mentes. Trata-se de uma ficção científica, mas cujas argumentações são cuidadosamente amarradas, numa arquitetura perfeita, e logo estamos nós, espectadores, invadindo os sonhos das vítimas.

É nesse mundo imaginário que os espiões realizam seus planos: convencem o sonhador a entregar os segredos mais valiosos. Porém, o inquietante começa quando o poderoso empresário Saito contrata os espiões para que façam o procedimento inverso: não tirem, mas coloquem um ideia na mente do bilionário Robert Fischer, mesmo que não haja nenhuma certeza de que dará certo.

Embora seja ficção, Nolan baseou-se em procedimentos já realizados pela neurologia, que é capaz de desenvolver mecanismos de proteção no sono. Através deles, sons, cheiros e movimentos detectados pela pessoa em repouso podem ser traduzidos em detalhes dos sonhos. Quem nunca sonhou que o barulho do despertador era alguma campainha ou um telefone tocando?

Sem dúvida estamos diante de sonho transformado em filme, com toda lógica do mundo real subvertida através dos brilhantes efeitos de realidade, que possivelmente darão uma indicação ao Oscar na categoria Efeitos Especiais.

Quem puder, uma “ideia” é não deixar de assistir ao filme no cinema, com todos os efeitos de som e imagem que só há ali. Além disso, muitas vezes é ótimo refletirmos sobre o valor das ideias, diante das incontáveis possibilidades de criação e de tudo que nossa mente é capaz.

Não espere encontrar respostas, nem certezas, mas prepare-se para muitas dúvidas e questionamentos. Aliás, mais uma prova de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas!

Cartas para Julieta


Por Géssica Valentini

Você é romântico? Iniciei a semana com o desejo de saber porque, ao longo de nossa curta vida, nos tornamos mais céticos ou, então, mais sensíveis a essa coisa chamada “amor”. Ao ouvir esta palavra aposto muitas lembranças e sentimentos surgem em sua cabecinha. Se você está em uma fase de questionamentos, bem vindo ao filme: Cartas para Julieta!

Nele, o diretor Gary Winick zomba de nós e de nossos conceitos trazendo de volta Julieta (a mesma de Sheakespeare!) para responder às duvidas das donzelas apaixonadas ou desiludidas (mais desiludidas que apaixonadas).

Uma delas é Sophie (Amanda Seyfried) que está de casamento marcado com Victor (Gael García Bernal). Os dois viajam para Verona, na Itália: ela para a Lua de Mel, ele para conhecer os vinhos e especiarias que poderiam servir para incrementar seu restaurante.

Nesse dramático e estonteante cenário, ela, curiosa repórter, encontra as secretárias de Julieta, que respondem às cartas deixadas pelas moças. A partir daí o papel dos filmes românticos entra em cena. Ela encontra uma carta que foi escrita há 50 anos e estava esquecida sob um tijolo. Entre opiniões divergentes, ela resolve responder e muitas aventuras se desenrolam depois dessa atitude ousada.

Se você está apaixonado, vai suspirar ante os diálogos da inusitada história. Se não está nem aí para o amor, vai, ao menos, viajar sem sair de casa pelas surpreendentes paisagens italianas.

Na ficção, não é preciso dizer que o fim é feliz. Na vida real, Paulo Mendes Campos foi enfático ao afirmar: o amor acaba! Às vezes numa esquina, num domingo de lua nova, no elevador, como se lhe faltasse energia. Acaba em apartamentos atapetados, aturdidos de delicadezas; no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; numa carta que chegou antes ou depois; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque; nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba.

Esse filme você já viu, não é? Ah! Mas, segundo ele, acaba para recomeçar...

Então, boa sorte com os sentimentos e lembranças!

Lembranças



Géssica Gabrieli Valentini

A menina feliz vê a mãe ser assassinada em uma estação de metrô. O menino feliz enfrenta o drama do suicídio do irmão e da separação da família. Os sorrisos se esvaem como a noite que de repente engole o dia e o tempo passa. Lembranças é a sombra de um passado que nunca é esquecido. Permanece presente no comportamento rebelde, na fragilidade das relações.

Para os fãs de filmes de ação, sugiro que não assistam, pois o diretor Allen Culler empregou a beleza da narrativa justamente na morosidade das cenas. Já para quem gosta de dramas humanos, surpresas e a vida real mais próxima da ficção, este é o filme certo.

O protagonista Robert Pattinson conseguiu se afastar do rótulo de galã de Crepúsculo empregando ao personagem Tyler uma rebeldia que está longe do ideal romântico do vampiro.

Tyler é filho de um milionário (Pierce Brosnan), mas vive em um modesto apartamento no subúrdio de Nova York, trabalhando em uma livraria. Linhas tortas o levam à Ally (intepretada por Emilie de Ravin), a menina que presenciou a morte da mãe 10 anos antes. O pai de Ally (Chris Cooper) é policial e bate em Tyler para separar uma briga no qual o moço estava envolvido.

Ao conhecer Ally e saber o quanto o pai a protege, resolve se vingar do policial, conquistando-a. O que ele não imaginava é que se apaixonaria também. Alguns chamaram a história de monótona, outros de empolgante. Eu diria que tudo depende do gênero com o qual você se identifica.

O filme também traz outras temáticas como bullying, termo utilizado para designar preconceitos que crianças e adolescentes sofrem na escola. Além disso, a discussão chega ao campo da segurança pública e das relações familiares. Percorre décadas de acontecimentos e de forma sutil apresenta as consequências de pequenas e grandes coisas na formação da personalidade humana e de uma nação inteira.

As palavras se tornam armas, as armas brinquedos, os brinquedos parte do passado, o passado uma sombra e assim se formam as relações, a cultura, as gerações. Difícil escrever uma crítica que depende do final para se tornar interessante, mas se revelar o final perde a graça. E agora?

Agora deixo a vocês a tarefa de descobrir do que se trata e valorizar os detalhes, da ficção e, sobretudo, da vida real! Ótimo fim de semana e bom filme!

Meu Malvado Favorito

Fui ao cinema procurando diversão! Encontrei em cartaz o filme “Meu Malvado Favorito”, que pelo nome já intriga, faz pensar. Aliás, convenhamos, muitos desenhos animados de hoje em dia são mais criativos, imprevisíveis e reflexivos do que vários romances, comédias e dramas.

É claro, para gostar é preciso deixar na bilheteria a razão e transportar para dentro da sala de exibição somente aquela criança curiosa para a qual a lua um dia já foi de queijo ou então morada de São Jorge e, então, você não se surpreenderá ao saber que o grande plano de Gru, o malvado favorito é, nada menos, do que roubar a lua!

O filme se passa num aconchegante bairro americano em que o normal são casas de cerca branca e famílias felizes. Ele, porém, vive em uma casa negra e sombria, com um gramado seco e muitas excentricidades espalhadas pelos cômodos.

Os planos de Gru são financiados pelo banco dos malvados e desenvolvidos por um exército de criaturinhas bizarras chamadas minions. Por onde passa destrói carros, jardins e casas e não tem nenhum constrangimento em roubar doce de uma criança. Até seu bichinho de estimação é mau, inclusive com ele.

Tudo estava perfeito nesse estranho reinado, até ele ganhar o que parecia impossível: um rival. Trata-se de um menino que roubou a maior pirâmide do Egito e por isso ameaça seu trono. Agora, roubar a lua é a única forma de se manter na posição de malvado favorito.

No entanto, embora ele esteja disposto a não medir esforços para ir adiante com seu plano, o que ele não contava é que até a mais forte e malvada das criaturas tem seus pontos fracos... Qual será o dele?

A animação foi a estréia da Illumination Entertainment, fundada por Chris Meledandri, ex-presidente da 20th Century Fox Animation (de A Era do Gelo, Robôs, Os Simpsons, Horton e o Mundo dos Quem, Alvin e os Esquilos, entre outros). Para cuidar da animação, ele não contratou centenas de pessoas, como costuma acontecer em grandes produções, mas apostou no que chama de “pessoas certas” e o resultado vocês vão poder conferir no cinema ou em DVD.

Seja sozinho, com seu filho, sobrinho ou amigo, a diversão é garantida para crianças pequenas e grandes. Será que a lua é mesmo de queijo? Que tal descobrir?



Salt



Por Géssica Valentini

Enquanto jura não ser uma espiã, Salt é espancada por militares da Coréia do Norte. Seus lamentos não são suficientes para convencê-los de que não está em busca de informações sobre pesquisas nucleares. Esses minutos de suspense abrem o filme da semana, que leva o nome da personagem principal: Salt, interpretada por Angelina Jolie.

As cenas seguintes mostram a bela sendo libertada e voltando ao trabalho: o escritório da CIA, em Washington. Sim, ela é espiã e a partir desta constatação uma série de reviravoltas ocorre nesse inteligente filme de suspense.

Embora tente levar uma vida normal, cumprindo a função de esposa e dona de casa, há muitas coisas sobre ela que só vamos descobrir no último minuto do filme. As desconfianças começam quando um agente russo se entrega e resolve contar o ambicioso plano dos compatriotas: assassinar o presidente russo e iniciar uma guerra com os americanos. Não somente isso, ele levanta a primeira suspeita contra ela: não poderia ser uma espiã russa infiltrada na CIA?

Assim, a partir da possível revelação, vamos passeando de prédio em prédio, sendo jogados de caminhão em caminhão, enquanto acompanhamos a fuga desesperada da protagonista.

Não sabemos o que virá na próxima cena, tampouco queremos que a perseguição e as surpresas acabem ali.

A trilha sonora e a produção técnica também acompanham sutilmente nossos sentidos. Somos quase transportados pelos enquadramentos, pelos movimentos de câmera, tudo isso embalado por músicas capazes de conduzir nossa adrenalina cena a cena.

A história relembra o drama da Guerra Fria, embora com muitos aspectos modernos. O exagero dos filmes de ação está presente: o herói indestrutível e invencível e a morte considerada quase banal. Trata-se, portanto, de um filme para entreter ou agradar aos olhos, como definiram muitos críticos.

Para quem gosta de cinema, esta é uma opção para o fim de semana chapecoense. Aguardo sugestões e lembrem-se: o controle está em suas mãos! “Play” ou “Stop” só depende de você! Ótimo fim de semana!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

As Viagens de Gulliver


Por Géssica Gabrieli Valentini

Gulliver é o famoso gigante que sofre um naufrágio e é encontrado e capturado pelos minúsculos liliputianos. Essa história, escrita por Jonathan Swift, foi publicada no século XVIII e se tornou conhecida por fazer uma crítica à Inglaterra da época. Transportada para o século XXI, ela ganha um toque moderno e muitas viagens literais e figuradas, embora tenha perdido totalmente a crítica social.

Para quem está curioso para assistir “As viagens de Gulliver”, é melhor diminuir as expectativas. Aliás, os produtores não tiveram grandes pretensões, apenas divertir a família e trazer à tona a famosa fábula: seja você mesmo.

Com Jack Black no papel de Lemuel Gulliver, o filme conta a história do divertido, mas acomodado jovem que trabalhava em um jornal de Nova York. Era engraçado, fazia de cada momento de sua vida uma festa, mas não esperava nada ou quase nada da vida, a não ser conquistar a editora do caderno de viagens Darcy, interpretada por Amanda Peet.

Como fazer isso? Ao invés de ir pelo caminho mais fácil, ou seja, chamá-la para sair, ele inventa algumas histórias de que já viajou o mundo e gostaria de escrever reportagens. Segundos depois, está à caminho do Triângulo das Bermudas. Como já é previsível, ocorre uma tempestade e lá está ele, naufragado.

É então que a nova história se funde com a original. Com diversas ressalvas e adaptações, Gulliver passa de vilão a herói em poucos minutos e então a versão agrega muitas características de uma comédia romântica: Gulliver começa a aproveitar todas as regalias de um privilegiado, com direito a vista para o mar e um Home Theater, conhece um camponês apaixonado pela princesa Mary (Emily Blunt), além de tentar projetar nele todos os sucessos que nunca conseguiu na própria vida.

A graça está nas alusões a séries de TV e filmes como o Titanic, registradas quando Gulliver resolve transformar a própria vida em peça de teatro e atração para os liliputianos. Espere muitos exageros de alguém que se acha o máximo (com certeza esse personagem vai lembrar alguém que você conhece ou vai conhecer na vida).

Espere diversão, mas, vale insistir, não exagere nas expectativas! Grande mesmo, somente o gigante diante dos liliputianos! Ótimo filme!