sábado, 1 de dezembro de 2007

O amor pode dar certo

Charles Chaplin disse uma vez que a vida e a morte são determinadas demais, por demais implacáveis para que sejam puramente acidentais. Confortante ou desesperador saber disso, quando, ao contemplar um raio x, sem muito entender, ouve-se a voz suave e programada do médico dizendo que aquilo significa apenas alguns meses de vida. “Ah, ufa”. Não aconteceu conosco. Porém, Henry Griffin (Dermot Mulroney) um dos protagonistas de O amor pode dar certo, era apenas um de nós quando ouviu isso.

Quantas vezes, nas brincadeiras infantis como “o que você faria se” já se deparou com a pergunta “tivesse apenas um dia ou um ano de vida?”. E quantas vezes você pensou que isso pode acontecer ou que o dia pode não chegar ao fim para fazermos tudo o que imaginamos, com os olhos brilhando, quando respondemos a esta questão.

O amor pode dar certo é um novo “Um amor pra recordar”, tem um pouco de cada filme e temos até a impressão de que já o assistimos em algum lugar, mas nenhum desses argumentos tira toda a magia de algo que toca profundamente como falar em vida e, principalmente, no mistério da morte. Estou ouvindo alguém dizer que não gostou de “Um amor pra recordar”?

Não se trata de resolver questões filosóficas ou religiosas, mas de pensar na vida como algo raro e precioso, como um chocolate quente ou um abraço de pai, coisa que poucos de nós sabemos fazer. “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. (Oscar Wilde).

O mesmo caminho para o trabalho há cinco anos. O mesmo motorista de táxi há 10. O mesmo lugar nas férias há pelo menos 15. O mesmo restaurante no aniversário de casamento há 20. Eu nem cheguei lá, mas já estava indagando quantas mesmas coisas eu faço todos os dias, meses, anos...

Enquanto isso, no filme... Henry Griffin, depois de descobrir que tem um câncer terminal, assiste a uma aula sobre a morte na Universidade de Nova York e encontra Sarah Phoenix (Amanda Peet). Os dois se conhecem e se apaixonam, mas inicialmente não dividem seus dilemas (Amanda também tem um, mas este é surpresa!). Tudo o que importa é o romance com jeito de último dia que eles vivem. Loucuras de amor, programas inesperados e tudo aquilo que a gente acha que só dá certo em filme, ainda que nos faça sonhar e suspirar.

Sinceramente, acho que não é preciso esperar o natal chegar para comemorar com luzes e o presépio montado. Essa é a principal lição do filme. Simplesmente, não encontro outras palavras para expressar o que o filme traz. Acho, por outro lado, que muitas pessoas compartilham a mesma opinião. Pessoas que souberam viver ou que souberam dizer como se vive, afinal “faça o que eu digo e não o que eu faço” é o exemplo claro disso. Muitos diriam que é comodismo pensar que é melhor não passar a vida toda tentando entender o mundo e porque acontece cada coisa justamente conosco. Não tenho muitas histórias de vida, mas vida nas minhas histórias e o pouco que aprendi me faz acreditar que não tentar entender o mundo e as decisões de Deus é uma questão de inteligência.
Clarice Lispector pode me ajudar: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Também não vou finalizar esta coluna. Antes disso, como Géssica, que tem muito ainda a viver e aprender, sugiro que assistam ao filme, com uma caixa de lenços de papel e alguém do lado para dar um abraço apertado.

Agora, sim, vou deixar que a frase de Abraham Lincoln reflita por mim: “E no final das contas não são os anos em sua vida que contam. É a vida nos seus anos.”
Play. Bom filme!