sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Maria - cheia de graça




Maria Alvarez é uma jovem colombiana que trabalha arrancando espinhos de rosas que serão exportadas por seu patrão, miserável e mesquinho.


Ela divide uma casa com a mãe, a irmã e o sobrinho bebê e vive de forma difícil e humilde, com poucas ou nenhuma perspectiva de um futuro melhor. Para piorar, descobre estar grávida do namorado (cuja situação financeira é ainda pior, já que mora com dez parentes).


Assim, a garota percebe que sua vida se tornará ainda mais complicada e é então que alguém lhe oferece uma pequena fortuna caso ela aceite trabalhar como "mula", ou seja, contrabandear drogas utilizando, como esconderijo, o próprio aparelho digestivo. É assim que começa "Maria Cheia de Graça", um filme de muita sensibilidade e que retrata o cotidiano difícil de milhares de pessoas, que podem ser eu ou você.


Aliás, esta é uma das grandes forças da produção: na maior parte do tempo, os personagens se comportam e conversam como pessoas reais que enfrentam situações morais complexas. E, no caso específico da protagonista, a questão-chave é: ela pode se dar ao luxo de ser escolher?


Para Maria, esta não é uma decisão que envolve princípios, mas necessidades. Buscando sempre a autenticidade, o diretor dedica um bom tempo do filme ao objetivo de retratar cada detalhe da atividade de "mula", desde o processo de preparação dos pequenos sacos com droga até a "liberação" do material do outro lado da fronteira, passando até mesmo pela dificuldade em engolir os mais de 60 pacotinhos que vai ser transportado no estômago. E o mais assustador: será que os pacotes não vão estourar, assim que chegarem ao estômago? Se isso acontecer, ela imediatamente morre por overdose.


A viagem também é cheia de tensões, longa, dramática. Com a possibilidade de morrer ou apenas ser descoberta, o que não daria cadeia aos traficantes, responsáveis pela droga, mas à Maria e as dezenas de jovens que se submetem ao trabalho, a maioria por necessidade.


O elenco inteiro é louvável, com uma brilhate atuação. Porém, quem se destaca é Maria, vivida por Catalina Sandino Moreno, que fez sua estreia no filme. Ela é uma daquelas atrizes que prendem o olhar do espectador, que percebe o sutil trabalho de construção da personagem, a ponto de nos fazer acreditar que ele existe, é real. Muitos outros momentos poderiam ser citados, mas Maria Cheia de Graça traz uma lição de vida. Reclamamos tanto e temos tudo. É preciso tão pouco para ser feliz... No entanto, precisamos de tantas coisas, principalmente materiais, para estarmos contentes. Ainda assim, querendo mais... Dinheiro, fama, poder, enquanto o mundo padece de carinho, de cuidado, de doenças que nem o homem mais rico do mundo pode escapar.


Esta semana, tire um tempinho para pensar nas coisas que te fazem realmente feliz e busque-as. Tente, sobretudo, ser mais sensível, mais humano, mais amoroso com sua família, com a mesma dedicação com que trabalha para ter. Maria nos inspira a sermos melhores! Play e ótimo filme!

Prova de Fogo




O filme da semana não é Hollywoodiano, não ganhou Oscar, nem foi indicado ao Cannes, mas deveria ganhar muitos prêmios pela belíssima história e pelo efeito que causa na vida de quem o assiste. Trata-se de “A prova de fogo”.


O filme conta a história de Caleb Holt (interpretado por Kirk Cameron), um bombeiro que se dedica ao serviço e ao próximo acima de tudo. Apaga incêndios, salva vidas, doa-se a desconhecidos sem hesitar. Porém, a parceria mais importante de sua vida, ou seja, seu casamento, está prestes a se transformar em fumaça, consumido pelo fogo, sem que ele faça nada para salvá-lo.


Isto até encontrar-se com seu pai e este lhe propor uma tarefa: adiar o divórcio em 40 dias e durante este período realizar o “Desafio do Amor”, que também salvara o casamento deles.
Inicialmente hesitante, um colega de trabalho o ajuda a entender como o lema dos bombeiros: “Nunca deixe seu parceiro para trás”, serve também para aquela situação. Neste caso, ser “a prova de fogo” não significa que não possa ser incendiado, mas que aguente os efeitos e supere as dificuldades. Cada dia trazia uma pequena proposta, uma mudança quase simbólica, mas capaz de operar milagres. No primeiro dia ele precisava apenas conter a raiva e não dizer nenhuma palavra que pudesse agredir a esposa.

Simples quando está tudo bem, difícil quando há diferenças, adversidades e, principalmente, quando já não há mais respeito e confiança ou somente migalhas disso.


No segundo dia, além de não dizer nenhuma palavra rude, deveria fazer uma gentileza. Ele preparou cuidadosamente o café da manhã, para ouvi-la dizer que não havia mais tempo para isso.


Desistir? Muitas vezes pensou nisso! Mas, afinal, o pai pedira-lhe 40 dias, não apenas 2, 10 ou 20.


Não se trata de um caminho fácil, afinal, vencer quando ambos estão lutando é uma tarefa difícil, mas e quando apenas um se esforça? Então ele percebe que não está sozinho e, aliás, conta com uma força que é maior do que ele mesmo poderia imaginar: Deus!


Assim, não há nada impossível, mesmo que duvide, mesmo que desanime e não seja capaz de esperar com fé e paciência. Espere surpresas, fortes emoções e uma lição que toca casados, solteiros, divorciados, crentes e descrentes. Um milagre em forma de filme!
Play!

Julie e Julia




Cada vez mais, o cinema mundial tem incorporado histórias reais e transformado-as em obras primas. Somente no ano passado, a lista inclui clássicos como Preciosa e Sonhos Possíveis, que em breve comentarei. Nesta semana, me ocupo de uma comédia literalmente deliciosa: Julie e Julia, estrelado por Meryl Streep.

O filme narra a trajetória de Julia Child e Julie Powell e de como suas vidas se cruzaram de forma inusitada, através da culinária. A primeira cena mostra Julia, no final dos anos 40, degustando um peixe, sua primeira refeição ao desembarcar na França. É aí que começa sua aventura com pratos, especiarias, pois até então esta americana mal sabia fritar um ovo.
Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, décadas depois, Julie (interpretada por Amy Adams) enfrenta os dramas de uma vida pacata, com um emprego monótono, embora não possa reclamar do marido, que, inclusive é quem apresenta a ela uma interessante saída: Ela sempre gostara de escrever, embora nunca tivesse terminado algo. Então, por que não escrever sobre o livro de outra pessoa?

Com o livro de Julia sobre o colo, o desafio estava lançado. Ela teria um ano, ou seja, 365 dias, para fazer as 524 receitas do livro e escrever sobre a experiência num blog batizado de Julie/Julia Project - na vida real inaugurado em 2003.

Escrito e dirigido por Nora Ephron, o mérito do filme está nas vidas entrelaçadas das personagens. Não se conhecem, vivem culturas distintas, épocas diferentes, mas principalmente Julie tem a vida modificada pelo livro. O filme intercala a vida de Julia, na França, a descoberta do que ela realmente gostava de fazer na vida, comer e cozinhar e os percalços iniciais até chegar ao sucesso do blog de Julie, nos Estados Unidos.

Para transformar em filme, a diretora utilizou as histórias de dois livros: A parte de Julia foi inspirada no livro de memórias My Life in France e a de Julie no livro Julie & Julia, que começou como o blog, que logo acumulava milhares de fãs, inclusive de editoras americanas, que resolveram publicar a história.

Engraçadíssimo, o filme não atrai um público específico, como poderia parecer. De donas de casa a marmanjos, é provável que todos se empolguem com a narrativa.

Aliás, a atuação de Meryl Streep, como não poderia deixar de ser, nos convence em todos os sentidos. Se procurarmos no Youtube, é possível assistir alguns episódios de The French Chef, programa de culinária da década de 60 apresentado pela Julia Child real, e então estabelecer um comparativo entre a realidade e a ficção, ou seja, entre Julia e Meryl.

Vale a pena assistir... Dá água na boca! Play e ótimo filme!

domingo, 20 de junho de 2010

Onde os fracos não tem vez


Começou assim: Vi um livro nas mãos de um colega e o ouvi comentado com outro “li ele em oito horas, quase ininterruptas”. O que chamou a atenção, inicialmente, foram as quase 500 páginas que ele segurava nas mãos. Depois, vi que o nome não era estranho ‘No Country for Old Men’.


Aquele era nada menos do que a inspiração dos irmãos Ethan e Joel Coen para fazerem o filme “Onde os fracos não têm vez”, sucesso de bilheteria que recebeu o Oscar de melhor filme.

Aliás, antes mesmo da estréia no Brasil, o filme já acumulava 82 menções nas principais premiações do cinema, incluindo a Palma de Ouro em Cannes e oito indicações ao Oscar. Só isto já justificaria a escolha do filme para estrear a nova fase do Voz Regional e desta coluna. Porém, tem muito mais.


Ainda não consegui ler o livro, mas não tive dúvidas de que deveria recorrer ao filme. Foi então que descobri a obra prima do cinema de 2007. Não apenas porque é uma história linda, com cenas belíssimas e uma ótima trilha sonora, mas porque é diferente de tudo o que já vi e não é algo que acaba da última imagem.


Por que ‘os fracos não têm vez’? Boa pergunta. Numa breve discussão com colegas que assistiram, chegamos a várias conclusões. Apesar disso, acho essa a mais importante contribuição do filme. A dúvida, a incerteza, a capacidade de reflexão.


O filme começa com a imagem e a voz grave de Tommy Lee Jones, na pele do xerife Bell, contando que no passado prendeu um rapaz que acabou condenado à cadeira elétrica. Cada palavra é um misto de desculpa e senso de justiça. Afinal, ele morreu, mas se ‘eu não o tivesse prendido ele faria de novo’. Ele é o xerife, o nome da lei, a autoridade máxima ali.

Lá vamos nós, ingressando desta forma num emblemático estudo da natureza humana, paradoxal e antagônica, boa ou má, ingênua ou cruel, instintiva ou calculada.


O personagem Llewelyn (vivido por Josh Brolin) descobre uma mala com 2 milhões de dólares na paisagem desértica do Texas dos anos 80, em meio a corpos, armas e drogas. Imediatamente a perseguição começa.


O mocinho, que não é tão bom assim, afinal fugiu com algo que não lhe pertence, passa a viver o rato, perseguido pelo vilão Anton, que já está na mira incerta do xerife Bell.
Aos poucos, cada personagem que aparece vai revelando medos, anseios, as tais fraquezas. Como espectadores, vamos nos deparando com nossos próprios fantasmas, imaginando tais situações.


Ao fitar o vilão, Anton (interpretado por Javier Bardem) é possível, como eu, que você se sinta perturbado. É como se a qualquer momento ele pudesse saltar da tela e nos atingir com a estranha arma, tão inquietante quanto sua própria personalidade.


A cena seguinte é completamente inesperada. Não há como supor desfechos, situações, como normalmente ocorre nos filmes. Pelo contrário. É como se realmente cada cena fosse guiada apenas pelo destino e pelas coincidências (ou tudo está escrito?), sobre as quais não se tem nenhum controle.


Apesar de estranha, quase surreal, é desta forma que o filme consegue trazer ao debate uma reflexão sobre o excesso de violência, a fugacidade da vida, o mal-estar que nos rodeia. O cenário de faroeste, com estradas quase abandonadas e seres mundanos, reforça ainda mais esta sensação de desesperança, da loucura que faz alguém arriscar a vida por dinheiro, e sabemos que nem precisa ser muito.


Somos imediatamente remetidos a tudo o que nos cerca. A melancolia, a incerteza, a ‘liberdade’ - presa a vícios, medos, sonhos quase impossíveis, dinheiro, poder...
Somos fracos? E se os fracos realmente não têm vez?

Bem, aí quem sabe seja somente uma questão de sorte, como a moeda lançada: cara ou coroa. Ou podemos ainda aceitar, ainda que não pacificamente, a vida, sem medo de ser feliz ou infeliz. Isto, sim, é uma questão de escolha.


Ficha Técnica
Título Original: No Country for Old Men
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Site Oficial: www.nocountryforoldmen.com
Estúdio: Paramount Vantage / Miramax Films / Mike Zoss Productions / Scott Rudin Productions
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado em livro de Cormac McCarthy
Produção: Ethan Coen, Joel Coen e Scott Rudin
Música: Carter Burwell


Premiações
- Ganhou 4 Oscars, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Bardem) e Melhor Roteiro Adaptado. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Som e Melhor Edição de Som.

- Ganhou 2 Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Javier Bardem) e Melhor Roteiro. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Diretor.

- Ganhou 3 prêmios no BAFTA, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Javier Bardem) e Melhor Fotografia. Foi ainda indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Tommy Lee Jones), Melhor Atriz Coadjuvante (Kelly Macdonald), Melhor Edição, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.

sábado, 19 de junho de 2010

O menino do pijama listrado




A guerra vista pelo olhar de um menino de oito anos. A visão ingênua traduz de forma espontânea e brilhante as causas injustificáveis de uma guerra. O menino do pijama listrado é, de longe, a melhor visão do holocausto que podemos ter.


Esqueça todos os filmes de guerra que você já assistiu e sente na poltrona preparado para se indignar e se emocionar.


A história surgiu de um livro com o mesmo nome e hoje é um clássico do cinema. Conta a trajetória de Bruno, o filho protegido de um oficial nazista que recebe uma promoção e leva toda a família a um campo de concentração.


Na verdade, o pai fala aos filhos que se trata se uma fazenda e todos assistem a um lindo vídeo, em que os judeus são confortavelmente acomodados e decentemente tratados. A ponto do menino Bruno sentir inveja e querer estar lá também, afinal do lado de fora não tinha sequer amigos para brincar.


Assim, contrariando os pais, ele vai para a tal fazenda e lá encontra Shmuel, um menino da sua idade que vive entre o drama da realidade e as fantasias que o pai lhe conta, para que não se apavore com o destino inevitável: a morte.


Bruno percebe no menino de pijama listrado um amigo, alguém com quem pode contar de forma inocente. Os dois refletem sobre aquela realidade com o olhar de menino, enquanto assistimos horrorizados e refletimos sobre a monstruosidade da capacidade humana.


As cenas que assistimos dão uma dimensão quase romântica daquele cenário de holocausto. A “caldeira”, onde os corpos são queimados, se transforma em um simples local onde se queima lixo. O pijama listrado, ao menino de oito anos, é apenas um jogo, divertido, que ele lá fora não pode jogar.


A perversidade do pai e dos oficiais esbarra no desconhecido: Por quê? Tampouco questionam, pois, como duas crianças, estão preocupados em rir da vida, brincar com o destino e viver cada minuto como se fosse o último.


Poderia narrar cenas que fazem arrepiar, suscitam emoções intermináveis e originam uma das melhores histórias de todos os tempos. Porém, vou deixar a você a tarefa de refletir, mais uma vez, sobre as injustiças cometidas pelo outro e por nós mesmos.


Afinal, quando tiramos o “pijama”, somos adultos e deixamos de olhar para a vida com o olhar inocente de uma criança, aquele que não vê maldade está sempre pronto a estender a mão. Prepare-se!

Play! Bom filme!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

PS EU TE AMO


O amor acaba. Num quarto escuro, olhando para o teto, num jantar à luz de velas, depois do cinema e pipoca. Sim, acaba, e a música que toca é axé, diferente da balada romântica em que começou. De repente, a espinha parece maior, a mania parece defeito e o que era vermelho agora é verde.


Deveria falar de amor? Pois vou falar de amor, esse mesmo que começa, e acaba. O filme do dia me ajudará: P.S Eu Te amo. Talvez eu esteja errada e o amor só se transforme. Talvez o que acabe seja a paixão. Mas às vezes existe um fim.


P.S Eu te amo é a prova de que nem sempre o que queremos é o que podemos ter. Alguém contra ? De fato, todos queremos amar, para sempre. Holly (interpretada por Hilary Swank, que já fez Menina de Ouro) e Gerry (interpretado por Gerard Butler, que já fez 300) também.

O filme começa com uma típica discussão, normal em relacionamentos, principalmente de muito tempo. A discussão termina com um abraço e, logo, não é preciso citar o que vem depois.
É assim que eles se apresentam.


Como um casal de Nova York normal, que vive junto há anos, mas ainda não conseguiu a estabilidade financeira – o que é ainda mais normal. No entanto, o fato aparece como principal fagulha para desencadear as discussões, pois o sonho de Holly é ter um filho – que as condições financeiras impedem.


Fora isso, Gerry é o amor da vida de Holly, e vice-versa. Ambos se conheceram da forma mais inusitada possível, quando Holly fazia uma viagem à terra natal de Gerry – a Irlanda-, o que não deixou dúvidas que um nascera para o outro.


Até aí, é um romance normal, um filme comum que mostra um casal que se ama, não fosse um detalhe: Gerry morre nos primeiros 10 minutos. O amor não acaba assim? Não, definitivamente. Essa perspectiva não está incluída nos contos e nos sonhos de nenhuma donzela esperando o príncipe encantado.


Mas é a partir daí que o romance, baseado no livro de Cecelia Arehn, ganha forma e torna a história especial. Gerry tinha uma doença grave e sabia que ia morrer. Assim, para ajudar Holly a superar perda, ele escreve uma série de cartas de amor para amenizar a dor da ausência. Todas encerradas com a frase que dá título ao filme. “P.S Eu te amo”.


A abreviação P.S. vem do latim post scriptum, que indica algo que vem escrito após a assinatura em uma carta.


E a trama, dirigida por Richard LaGravanese, é completa, assim como a vida real e suas desilusões. A amada que sofre, amigas e família sempre prontos a ajudar, dois pretendentes interessantes, além de cenas da Irlanda que deixam o espectador morrendo de vontade de visitar o país – e quem sabe encontrar por lá o tal príncipe.


Com esta produção, nas primeiras duas semanas de exibição as bilheterias registravam cerca de R$ 60 milhões de lucro, prova de que há muita gente procurando formas de superar desilusões e ironias do destino.


Os homens podem até achar piegas, mas o filme é um é brilhante romance que consegue transformar em comédia, assim como ‘Antes de Partir’, algo tão doloroso como a morte e, mais ainda, o fim de um amor – pelo menos físico.


Ah, mas assim como acaba, o amor começa, às vezes re(começa). Em festas de São João, nas barraquinhas de cocada, em noites frias, em que é preciso se aquecer de alguma forma. Em becos, boates, ônibus, igrejas. Em espelhos, em que o reflexo ofusca, a imagem bilha, o piscar de olhos vira fotografia. Eterna. De manhã, à tarde, quando menos se espera, onde nunca imaginamos.


Ah, o amor. O importante é amar, como nos diz o poeta Carlos Drummond de Andrade. “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”.


A quem um amor começou e a que um amor ainda começará....Bom filme!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O Diário de Bridget Jones





17 de junho de 2010.



Uma barra de chocolate: 1200 calorias; ½ Lazanha: 800 calorias; Um pé na bunda; Seis cigarros. Resultado do dia: Péssimo.


Para Bridget Jones, esse não é um dos piores resultados. Além disso, o registro na agenda sempre contém um pouco de exagero, o que faz com seja um personagem ainda mais engraçado.


O Diário de Bridget Jones era livro e há alguns anos foi transformado em filme e tanto o primeiro quanto o segundo “Bridget Jones no Limite da Razão” são dois manuais femininos.


Mulheres, assistam e/ou leiam para saberem que não são as únicas a enxergar elefantes no espelho e se sentirem a pior criatura da face da terra. Homens, assistam para entender temas como TPM, gordura localizada e príncipe encantando.


O livro foi escrito por Helen Fielding e conta a história de uma excepcional garota comum. Isso mesmo: Bridget é excepcional porque é única, como toda mulher, e, ao mesmo tempo, com todas as paranóias e atitudes comuns, como toda mulher.


Vivida por Renée Zellweger, ela parece ter a capacidade de sempre dizer as coisas erradas nas horas mais impróprias e agir de forma estranha nas situações mais improváveis. Quem nunca fez isso e ficou com vontade de se jogar em um buraco qualquer segundos depois disso?


Na época em que li ao livro, me identifiquei imediatamente com aquela figura desastrada. Hoje, ainda tenho um pouco da Bridget, principalmente no que se refere a dar mancadas fenomenais, perder as coisas mais inusitadas e ser um desastre em pessoa.


Já fui capaz de desviar meticulosamente de um copo que estava no chão e por causa disso tropeçar em outra coisa qualquer e, no fim das contas, quebrar dois copos de uma vez. Por outro lado, algumas coisas ficaram para trás e nessa fase da vida ela me lembrou uma colega de trabalho pra lá de divertida, que antes de qualquer coisa também sabe rir de si mesma e das tragédias particulares.


Com certeza, essa identificação e empatia com toda mulher, pelo menos em uma época da vida, faz com que a história tenha sido sucesso do mercado editorial e do cinema.

Não há uma sequência exata ou final previsível, o que faz com que o aproximemos ainda mais a vida real. Aposto que ao assistir ao filme você vai ter certeza que ela tem nome e endereço!

Play! Bom filme!

Veja o trailer

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um sonho possível

Todos os sonhos são possíveis, a menos que não tenhamos lutado por eles suficientemente. Alguns são mais difíceis, por isso desistimos deles antes mesmo que tivéssemos a chance de contemplá-los com alguma viabilidade. Outros, a gente dá um jeito e vai até o fim. Para que não tenhamos dúvidas de nada é impossível nesse mundo, apresento-lhes o filme “Um Sonho Possível”, que logo que chegou aos cinemas do mundo todo conquistou a crítica, o público e até mesmo algumas indicações ao Oscar.

O filme conta a história de Michael Oher, o Big Mike, um menino que logo cedo teve a família separada e viveu o drama de crescer sem pai e vendo a mãe morrer aos poucos, vítima das drogas.

Marcado pela rejeição, ele cresceu indo de um lar adotivo para o outro sem nunca encontrar acolhimento verdadeiro ou o carinho de uma família.
Logo percebemos que há nele muitos traumas de infância, que fazem com que ele pareça um grande vazio intransponível. Ele finge indiferença e burrice - mecanismos de defesa psicológica contra mais traumas. Quanto menos envolvimento ele tiver com o que acontece ao seu redor, menor será a dor.
Porém, sua vida começa a mudar quando alguém decide matriculá-lo em uma escola particular cristã. Mesmo sem notas suficientes para acompanhar o currículo rígido do colégio, ele é admitido pela possibilidade de se tornar um ídolo do esporte, além do argumento cristão da caridade.
Num dia de extremo frio, em que ele descobre que a família foi despejada e não deu a ele o novo endereço, ele está a caminho da escola, onde pretende encontrar um lugar para dormir, quando cruza o caminho da família Tuohy.

Eles são o mais perfeito exemplo de estrutura familiar: Leigh Anne (Sandra Bullock) é a mãe rica, mas consciente e de valores cristãos; seu marido, Sean (Tim McGraw), é um ex-jogador de basquete que, ao deixar a carreira por uma lesão, comprou vários restaurantes da franquia de fast-food Taco Bell e vê o dinheiro entrar sem muito esforço. Além disso, o casal possui dois filhos adoráveis: Collins (Lily Collins) e o espevitado S.J. (Jae Head).

Ao encontrar Big Mike sozinho na rua, Leigh Anne decide simplesmente levá-lo para sua casa e dar-lhe uma cama, comida e tudo que ele nunca teve: uma família feliz.

Os Tuohy o recebem, mesmo arriscando ser ele um marginal que pode roubá-los a qualquer momento. Aos poucos, se apegam, através das descobertas de todo o passado trágico daquele menino.

Assim, na escola Big Mike vislumbra a possibilidade de ser “alguém” e jogar futebol americano profissionalmente. Trata-se de uma história de amor, feita para nos tocar. Não o amor romântico vivido tantas outras vezes, mas sim um amor que está disposto a se doar ao próximo sem esperar nada em troca.

O filme é baseado na história verídica do atacante dos Baltimore Ravens, contada no livro The Blind Side: Evolution of a Game e isso explica muito da simpatia do público. É como se, no Brasil, a história de um jogador de futebol famoso fosse contada, inspirando milhares de meninos, meninas e todas as pessoas que tem um sonho aparentemente impossível.

Sobretudo, trata-se de um exemplo de que é possível acreditar em uma humanidade caridosa e altruísta. Assim, terminamos o filme acreditando que realmente é possível fazer o bem sem olhar a quem e ser muito feliz com isso! Play e ótimo filme!
O filme lembrou-se a clássica poesia de Clarice Lispector, que sutilmente define sonhos e encoraja os sonhadores:


Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida
e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança suficiente para fazê-la feliz.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Simplesmente Complicado




O que esperar de algo que é “Simplesmente complicado”? No nosso dia a dia, isso significa dizer que não adianta esquentar a cabeça, pois será difícil, mas no fim tudo vai dar certo. No filme que leva este nome, podemos responder como sinônimo de boas risadas!


No filme, a protagonista é Meryl Streep, que interpreta Jane Adler, a dona de uma confeitaria bem-sucedida, mãe de três filhos já crescidos e ex-esposa do advogado Jake (Alec Baudwin), com quem mantém uma relação quase amistosa.


Depois de 10 anos divorciada, se perguntando o que fez de errado para ser trocada por uma moça com metade da sua idade, ela finalmente começa a secar as lágrimas e resolve partir para outra. Isto significa relaxar e admitir a possibilidade de um novo amor.


É então que aparece o arquiteto Adam (vivido por Steve Martin) e, ao mesmo tempo, durante a festa de formatura de seu filho Luke, ela acaba se envolvendo novamente com o ex-marido.


Agora, ela é aspirante a namorada de um e amante do homem com o qual foi casada por 20 anos. Um rico dilema emocional, que inclui a famosa roda de amigas para contar dramas, muita comida para afagar as mágoas, piadas para rir muito, dietas para manter a forma, lenços para secar as lágrimas. Nada mais normal do que isso, se tratando do universo feminino. É claro que nem sempre é assim. Afinal, mulheres trabalham, cuidam da casa, se cuidam e o filme mostra tudo isso com delicadeza.


É interessante a relação, aparentemente, confortável que os dois amantes estabelecem. Da mesma forma, é surpreendente perceber o dilema vivido pelo ex-marido, já que se torna fácil perceber como um homem como aquele pode, ao mesmo tempo, se sentir tentado a reatar a velha relação com a ex-esposa, ao mesmo tempo em que permanece preso à família atual.


Em contrapartida, a diretora também mostra como há, sobretudo, um mau caráter por trás daquele gesto: Como assim, 10 anos depois de ter trocado a esposa volta querendo ser amante? Aliás, apenas amante?


Tudo isso regado a muitas cenas engraçadas. A tragédia vira comédia de uma cena para outra, sem muito drama. Espere tudo de uma mulher traída, ainda mais interpretada por Meryl Streep, um homem que descobre que pode ter perdido o amor da sua vida, e alguém disposto a conquistar outra pessoa. Espere doces momentos com essa dona de confeitaria!





O segredo dos Seus Olhos

O que vai acontecer na próxima cena? Esperar curioso pelo desfecho das imagens seguintes é algo que esperamos de todos os filmes.

Infelizmente, nem todos são assim. Aliás, a maioria é completamente previsível. Por outro lado, ainda existem pérolas do cinema mundial, como é o caso de O Segredo de Seus Olhos. Protagonizado por Darín, um ator cheio de mistério no olhar, o roteiro foi escrito por Juan José Campanella e Eduardo Sacheri, a partir de um livro com o mesmo nome.

A história é sobre Benjamín Esposito, um oficial de justiça aposentado que decide escrever um romance baseado em um caso ocorrido há 30 anos. Na época, ele atuava como assistente da promotora Irene (Villamil) e se envolveu na investigação de um estupro seguido de assassinato. A vítima foi a bela esposa do bancário Rago, cuja história comoveu a todos.

Pascal dizia que "Os olhos são os intérpretes do coração, mas só os interessados entendem essa linguagem."

Com certeza, Benjamin era um interessado, pois encontrou o culpado através de algumas fotografias que a bela guardava e outros indícios quase impossíveis de serem percebidos. Porém, foi com frustração que acompanhou a absolvição do criminoso. Trinta anos depois, com muitas reviravoltas, ele decide saber como os personagens estão.

Assim, enquanto mergulha em suas memórias e reata relacionamentos com antigos colegas, se descobre ainda encantado por Irene, embora esta agora esteja casada e com filhos.

Ao longo das cenas, também acompanhamos a conturbada história política da Argentina, principalmente na década de 70. Nesse contexto, Campanella constrói uma narrativa que traz, como tema central, a maneira com que somos eternamente aprisionados por nossas memórias mais marcantes: sendo sempre aconselhado a parar de pensar no passado, Benjamín não consegue se libertar do peso das lembranças que, de forma ainda mais cruel, se revelam incertas e inconstantes como as recordações mais importantes costumam ser.

Os instantes mais dramáticos iluminam nossas próprias vidas são intercalados com outros de um humor extremamente eficaz. Aliás, é esta sensibilidade para retratar a experiência humana que transformam o argentino num cineasta tão envolvente: em certo instante, por exemplo, o personagem vivido de forma divertida pelo comediante Guillermo Francella faz um belo discurso sobre como não podemos jamais nos libertar de nossas paixões e como isso pode ser encarado como um ponto fraco do homem que perseguem – e a propriedade do que é dito é tamanha que simplesmente não podemos ignorar o que aquelas palavras revelam sobre nós mesmos.

Além disso, os cenários parecem realmente ter sido ocupados há anos por aquelas pessoas, trazendo elementos das personalidades dos personagens em seus detalhes e uma impressão de desgaste natural, desde o escritório empoeirado e amontoado de papéis dividido por Benjamín e Pablo até o detalhe da máquina de escrever estragada (e que servirá para uma bela rima narrativa ao final da projeção).

Absolutamente fascinante do início ao fim, é assim que poderíamos definir esta produção, que começa em um helicóptero que sobrevoa um estádio de futebol e termina em seu gramado.
O desfecho não só rico de significados, mas surpreendente.