sábado, 1 de dezembro de 2007

O amor pode dar certo

Charles Chaplin disse uma vez que a vida e a morte são determinadas demais, por demais implacáveis para que sejam puramente acidentais. Confortante ou desesperador saber disso, quando, ao contemplar um raio x, sem muito entender, ouve-se a voz suave e programada do médico dizendo que aquilo significa apenas alguns meses de vida. “Ah, ufa”. Não aconteceu conosco. Porém, Henry Griffin (Dermot Mulroney) um dos protagonistas de O amor pode dar certo, era apenas um de nós quando ouviu isso.

Quantas vezes, nas brincadeiras infantis como “o que você faria se” já se deparou com a pergunta “tivesse apenas um dia ou um ano de vida?”. E quantas vezes você pensou que isso pode acontecer ou que o dia pode não chegar ao fim para fazermos tudo o que imaginamos, com os olhos brilhando, quando respondemos a esta questão.

O amor pode dar certo é um novo “Um amor pra recordar”, tem um pouco de cada filme e temos até a impressão de que já o assistimos em algum lugar, mas nenhum desses argumentos tira toda a magia de algo que toca profundamente como falar em vida e, principalmente, no mistério da morte. Estou ouvindo alguém dizer que não gostou de “Um amor pra recordar”?

Não se trata de resolver questões filosóficas ou religiosas, mas de pensar na vida como algo raro e precioso, como um chocolate quente ou um abraço de pai, coisa que poucos de nós sabemos fazer. “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”. (Oscar Wilde).

O mesmo caminho para o trabalho há cinco anos. O mesmo motorista de táxi há 10. O mesmo lugar nas férias há pelo menos 15. O mesmo restaurante no aniversário de casamento há 20. Eu nem cheguei lá, mas já estava indagando quantas mesmas coisas eu faço todos os dias, meses, anos...

Enquanto isso, no filme... Henry Griffin, depois de descobrir que tem um câncer terminal, assiste a uma aula sobre a morte na Universidade de Nova York e encontra Sarah Phoenix (Amanda Peet). Os dois se conhecem e se apaixonam, mas inicialmente não dividem seus dilemas (Amanda também tem um, mas este é surpresa!). Tudo o que importa é o romance com jeito de último dia que eles vivem. Loucuras de amor, programas inesperados e tudo aquilo que a gente acha que só dá certo em filme, ainda que nos faça sonhar e suspirar.

Sinceramente, acho que não é preciso esperar o natal chegar para comemorar com luzes e o presépio montado. Essa é a principal lição do filme. Simplesmente, não encontro outras palavras para expressar o que o filme traz. Acho, por outro lado, que muitas pessoas compartilham a mesma opinião. Pessoas que souberam viver ou que souberam dizer como se vive, afinal “faça o que eu digo e não o que eu faço” é o exemplo claro disso. Muitos diriam que é comodismo pensar que é melhor não passar a vida toda tentando entender o mundo e porque acontece cada coisa justamente conosco. Não tenho muitas histórias de vida, mas vida nas minhas histórias e o pouco que aprendi me faz acreditar que não tentar entender o mundo e as decisões de Deus é uma questão de inteligência.
Clarice Lispector pode me ajudar: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Também não vou finalizar esta coluna. Antes disso, como Géssica, que tem muito ainda a viver e aprender, sugiro que assistam ao filme, com uma caixa de lenços de papel e alguém do lado para dar um abraço apertado.

Agora, sim, vou deixar que a frase de Abraham Lincoln reflita por mim: “E no final das contas não são os anos em sua vida que contam. É a vida nos seus anos.”
Play. Bom filme!

domingo, 25 de novembro de 2007

O jardineiro fiel



A cabeça ou qualquer lugar do corpo dói um pouco mais do que o normal e vamos ao médico para que ele num passe de mágica resolva nosso problema. A figura do “doutor” é quase um super-homem diante da doença, principalmente as corriqueiras. Saímos do consultório com um monte de nomes indecifráveis, mas que, felizes, esperamos ser sinônimo de cura. E na nossa cultura saúde=medicamento é provável que se a receita fosse apenas “repouso” saíssemos falando que ele comprou o diploma.


Isto é tão normal que nunca paramos sequer para pensar: Quanto vale realmente a vida humana para a indústria farmacêutica? Esta é a reflexão do filme O jardineiro fiel, um manual de instruções a todos nós, culturalmente instruídos para ingerir cápsulas de “salvação”.


Para a maioria dos grandes laboratórios farmacêuticos, desenvolver e comercializar uma droga capaz de combater doenças com grande ocorrência pode gerar fortunas incalculáveis, bilhões de dólares. Infelizmente, é mais comum do que pensamos que cheguem até nós remédios que não foram suficientemente testados e cujas conseqüências a curto e longo prazo são imprevisíveis.


Foi isto que constatou Tessa Quayle, esposa de um diplomata britânico que trabalhava no Quênia. Ela decidiu investigar os procedimentos de uma companhia que estava testando um remédio contra a tuberculose na população, suspeitando de que os habitantes mais miseráveis do país estivessem servindo como cobaias de um experimento sem a menor segurança.


Com a ajuda do médico Arnold Bluhm ela trava uma verdadeira batalha para provar a culpa do laboratório ao governo britânico. A história é real e transformou-se também em livro escrito por John Lê Carré. Foi o livro que deu origem ao roteiro, cujo desfecho é quase esperado. Tanto que o fim é o início do filme – um assassinato brutal. E a partir dele o relato de todo o esforço de Tessa para provar a denúncia, e do marido para vingar o assassinato.


Só por isto você já deveria assistir ao filme, mas ainda há outro argumento: a direção é do brasileiro Fernando Meirelles, que transforma o filme em uma super produção, sem minimamente apelar para o Cinema do primeiro mundo, que costuma maquiar até mesmo a mais brutal das realidades.


O jardineiro fiel consegue ser uma ótima produção, aliando boas imagens e responsabilidade social. Não que todos os remédios e laboratórios sejam uma fraude, muito pelo contrário. A vida de muitas pessoas depende de remédios que realmente são eficazes, e ninguém discute que uma aspirina é um santo remédio nos dias em que nossa cabeça parece querer explodir. Porém, é preciso tomar cuidado com os excessos e procurar profissionais de confiança, que trabalham com isso e sabem as “contra-indicações” de cada produto.


Os riscos foram reduzidos e a maior parte dos países, inclusive o Brasil, adotou leis rígidas para a condução dos testes para menor risco ao paciente. Porém, sabemos que, por exemplo, o Brasil tem uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo e mesmo assim é o maior devastador de florestas do planeta. As leis pouco ou nada valem diante de fiscalização insuficiente e, principalmente, da corrupção. É preciso estar atento e não se calar diante de qualquer suspeita.


Ah, e também dar um beijo estalado no médico ou farmacêutico quando ele receitar apenas algumas noites de sono e muita água.


Ok, retire o beijo estalado... um sorriso feliz está de bom tamanho. Mas feliz, hein.


Play. Bom filme!

sábado, 10 de novembro de 2007

Brilho Eterno de uma mente sem lembranças

Ah, se tudo se resumisse a selecionar e apertar a tecla “del”...faríamos algumas pastas, compartimentos secretos, e para a lixeira iria tudo aquilo que povoa de ‘vírus’ nossa memória.
Uma demissão. Uma decepção. Uma ausência. Sobretudo, aquela dor insuportável que aperta o coração quando o amor não é mais amor. E como custa a passar. Dói o cotovelo, o ombro, a cabeça, a alma.

Possível? Sim, pelo menos na cabeça do roteirista Charlie Kaufman, de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, dirigido por Michel Gondry. Alguém aí quer marcar hora?

Quanto custa? O próprio filme conta. Custa dezenas de piqueniques. Centenas de noites de amor. Milhares de beijos de cinema. De potes de sorvete. De barras de chocolate. De jantares românticos. Coloque tudo isso na poupança, junte as lágrimas que você derramou e aquela dorzinha e troque pela paz.

Confesso que não me impressionei com o tamanho da fila de espera de pessoas que desejam apagar lembranças indesejáveis.

Após juntar tudo. Presente, roupas, fotos, músicas, tudo mesmo, Clementine (Kate Winslet), decide apagar Joel (Jim Carrey). Quando o moço descobre, após tentativas frustradas de reconquistá-la e muitos soluços abafados pelo travesseiro, decide fazer o mesmo.

Quase a totalidade do filme se passa, então, na mente de Joel, enquanto desesperado percebe que “deletar” tudo da memória não era bem o que queria. Aos poucos toma consciência de que é parte da própria vida que está apagando. Queria que a dor passasse, que o amor acabasse, e não que parte de si se esgueirasse, como um ratinho que foge da ratoeira e some.

Na hora do desespero, todos somos um pouco Joel e Clementine. Muitos de nós estaríamos na fila, se o processo existisse de fato.

É ficção, comédia, drama, mas, sobretudo, uma linda história de amor que tem todos os argumentos possíveis para ser real. Nada de tudo certinho, beijos apaixonados e um jantar a luz de velas para finalizar o conto de fadas. Mas dificuldades, discussões, dor, insegurança, a consciência de que o outro não é a perfeição em pessoa e ainda assim um amor incondicional. Alguém já ouviu essa história antes?

Viver nunca é fácil. Amar, menos ainda. Encontramos no filme um motivo para refletir sobre as relações cada vez mais superficiais. Alguns “pés-na-bunda” e somos compelidos a um contingente de pessoas cada vez mais receosas, que namoram esperando nada, casam já pensando que se não der certo há a separação. Errando a gente aprende. Você já ouviu isto milhares de vezes. Chorar faz parte da vida, assim como sorrir ou dormir. Pergunte a um velhinho de 90 anos qual é a coisa mais importante e ele lhe dirá, sorrindo.

Amar sem medo de se entregar é algo cada vez mais raro. Confundimos compromisso com prisão e na busca da liberdade nos tornamos prisioneiros do medo de sofrer. Carlos Drummond de Andrade resume este sentimento a uma frase "A conquista da liberdade é algo que faz tanta poeira, que por medo da bagunça, preferimos, normalmente, optar pela arrumação."

No nosso mundinho arrumado, embora sempre tendo que ser restaurando, estancando brechas que deixam a enchente do amor passar, o filme deixa claro que podemos apagar as memórias da mente, mas jamais os sentimentos da alma.

Assisti ao filme a pouco mais de uma semana, mas aqui está ele. Ajudando para que as palavras se combinem, tomando café comigo, indo para a cama, e me ajudando a organizar minha bagunça diária ou não ter medo da desordem.

E o amor... ah, o amor...

"...que não seja eterno, posto que é chama,mas, que seja imortal, infinito, enquanto dure..." (Vinícius de Moraes)

Reine Sobre Mim

O pai. A mãe. O marido. O filho. Família. Quando questionados, sem titubear pronunciamos orgulhosos, olhos brilhantes e o coração apertado, que ela é a base de tudo. A força que nos faz caminhar, e, sobretudo, que nos faz levantar depois de fraquejarmos e irmos de encontro ao chão. Não conseguimos imaginar o abismo de tristeza e o vazio que seria sem essas pessoas na nossa vida. Quando elas se vão, temos um filme como “Reine sobre mim”, triste e, ao mesmo tempo, fascinante.

Charlie Fineman (Adam Sandler) é um homem que perdeu a esposa e as 3 filhas nos atentados de 11 de setembro, em Nova York. Desde então, lida com isso da forma que nos parece menos dolorosa possível: convence a todos, e todos acham que até a si, que não lembra de nada nem ninguém. (Isso me lembrou “Brilho eterno de uma mente sem lembranças). Apagou a todos de sua vida, e mais, renunciou a ela, amigos, profissão e todos os que poderiam ajudá-lo.

Nesta trama surgem aqueles que muitos chamam de anjos (verdadeiros) ou simplesmente amigos, com tudo o que esta definição implica. Alan Johnson (Don Cheadle), ex companheiro de quarto de Charlie dos tempos da faculdade, o reencontra e assume a difícil tarefa de tentar libertar o amigo da fantasia que transformou sua vida, sem se dar conta que está transformando também a própria vida.

Deslizando com um patinete motorizado pela cidade escura, quase vazia, Charlie encontra, finalmente, alento, paz. Isto numa amizade que não tem fronteiras, nem tamanho estimado, muito além da distância que o patinete pode percorrer. Amizades raras no nosso dia a dia, onde estamos preocupados demais conosco para perceber problemas maiores para os quais podemos ser a solução.

“Abraço Grátis”. Foi com um cartaz com este dizer que me deparei neste fim de semana. Ganhei um abraço de um desconhecido e ganhei o dia. Por um longo tempo fiquei pensando em como perdemos a capacidade de enlaçar. Cada vez mais abraços são símbolos de reencontros e partidas, enquanto ali, do nosso lado, pessoas precisam de carinho e atenção ou apenas um abraço. Pense nisso...

Play! Bom filme!


Ficha Técnica:

Título Original: Reign Over Me
Direção: Mike Binder
Roteiro: Mike Binder
Elenco: Adam Sandler,Don Cheadle,Jada Pinkett Smith,Liv Tyler, Donald Sutherland
Duração: 124 min
País de origem: EUA
Língua: Inglês

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Tropa de Elite

Um assalto acontece do lado de casa, isso quando não é conosco. Imediatamente, discamos “190” e a Polícia é chamada. Em nossas pequenas cidades, em que Chapecó é a maior referência, ainda nos sentimos seguros quando uma viatura passa com a sirene ligada e estaciona perto de nós. Ali está a segurança.

Porém, não tão longe daqui, num reino em que o irmão não é o apoio, o vizinho não é o amigo e o colega de trabalho não a pessoa indicada para confiar, a Polícia é um desconhecido cuja face por trás da máscara tanto pode ser de mocinho quanto de bandido. E agora? E agora quero comentar um filme que se tornou mania nacional em poucas semanas, mesmo antes do lançamento: Tropa de Elite

Se você é uma das pessoas que ainda não viu, começo contanto um pouquinho sobre o filme. A obra conta a história real de uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais – BOPE - para acabar com uma gangue de traficantes em uma favela próxima à casa do arcebispo do Rio, pouco antes de uma visita do papa ao Brasil, em 1997.

Para alguns o nível de corrupção é surpresa, para outros normalidade, o fato é que o filme, baseado na história real de dois capitães, expõe de forma clara como os policiais são corrompidos por dinheiro, em troca de armas, favores ou imunidade aos traficantes das favelas. A história se passa no RJ, mas esta é uma realidade de diversas capitais brasileiras e até mesmo de algumas cidades menores.

A idéia inicial do cineasta José Padilha era produzir um documentário baseado no livro Elite da Tropa, do sociólogo Luiz Eduardo Soares e dos oficiais do BOPE André Batista e Rodrigo Pimentel. No entanto, percebeu que seria impossível encontrar policiais que aceitassem dar depoimentos sinceros sobre os fatos descritos no livro e optou pela ficção, que no entanto é fiel às histórias do livro.

De qualquer forma, o BOPE é a tropa de elite por ser ainda o esquadrão temido pelos traficantes e visto como incorruptível. Para conseguir que somente homens honestos entrem para o batalhão, o filme, inclusive, retrata a crueldade dos testes de ingresso. De cada centena, apenas um ou 2 terminam por serem aceitos. Um a um, como pinos de boliche, vão sendo derrubados, e isto por iniciativa própria.

O grande trunfo do filme é que a polícia aparece realmente como é, muitas vezes corrupta, mas também imprescindível para lutar contra o tráfico de drogas e ainda com pessoas preocupadas com a honestidade. Ao mesmo tempo, isto de certa forma até brutal. Por sua vez, os traficantes aparecem sem romantismo, como encontramos em diversos livros e até filmes, mas terrivelmente violentos e dispostos tudo para controlar o seu “mercado”. De outro lado, também esbofeteia em cheio a classe média, que financia o tráfico através do consumo desenfreado de drogas.

É impossível ficar indiferente. Os sentimentos se confundem e é preciso pensar muito para se posicionar. Aplaudir de pé, se incomodar com as cenas de tortura, sentir nojo ou indignação – isto para citar algumas das reações mais comentadas pelos espectadores.

A repercussão foi tanta, no Brasil e no exterior, que mesmo antes de ter sido lançado era possível encontrar a cópia do filme em camelôs ou baixar pela internet. Milhões de pessoas conheceram a história muito antes do lançamento oficial – dia 12 de outubro.

Em entrevista, o diretor afirmou que não busca “culpas, mas relações de causa e efeito. A polícia não existe no vazio. Ela é o que é e faz o que faz por causa da sociedade que a moldou”. E isto diz respeito a cada um de nós, por isso acho imprescindível conhecer e discutir qual será nossa contribuição para esta realidade.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Jogos Mortais



Sentada na cadeira, dividindo olhar entre a tela em branco e o teto, pensei por um longo tempo que filme deveria indicar e comentar esta semana. Há menos de um dia estou na minha terrinha amada e ainda sinto o clima de uma tragédia. Há poucas horas visitei alguns sites para saber mais sobre o acontecimento que abalou a região Oeste catarinense e o mundo e descobri que uma das vítimas foi uma colega querida que tive a oportunidade de conhecer e que se formou na mesma Universidade (Unochapecó) em que estudei até o ano passado. Mais próxima ainda do cheiro da morte que paira no ar, pensei no jogo da vida e nos “Jogos Mortais” que enfrentamos diariamente. Decidi pela seqüência de filmes que trazem este nome.


Os filmes “Jogos mortais” são obras de ficção, mas nos fazem pensar em como a vida é frágil, como é difícil e como custamos a valorizar as brincadeiras diárias de amar e sofrer, sair e chegar, dormir e acordar. Elisandra (nome da pessoa citada acima), como todas as outras vítimas, acordou de manhã, vestiu-se, tomou café, talvez um banho e foi para o trabalho, de onde não voltou mais. É provável que se tivesse uma nova chance olharia o mundo de outra forma. Não teve.


Os jogos mortais da ficção (1, 2 e 3) são situações inteligentes e criativas armadas pelo assassino Jigsaw (Tobin Bell) que fazem as vítimas pensarem no quanto desejam realmente sobreviver e até onde estão dispostas a ir para fazê-lo.


O primeiro filme foi lançado em 2004 e o sucesso foi tanto que em menos de dois anos outras três edições foram lançadas e a quarta já está pronta – com lançamento previsto no Brasil para o dia 26 deste mês.


Na história inicial Jigsaw deixa nas vítimas uma cicatriz em forma de quebra-cabeças, que faz com que elas cometam atos inimagináveis para se salvar.


No segundo filme um grupo de pessoas é trancado numa casa, uma bomba relógio. Para sobreviver eles precisam escolher entre a própria vida e a vida do outro.


No filme seguinte, para se livrar da perseguição dos detetives e lutar pela própria vida Jigsaw seqüestra uma médica e arma seu jogo.


Por sua vez, nos Jogos Mortais 4, de acordo com a sinopse divulgada pelos sites de cinema, um dos próprios detetives é seqüestrado e obrigado a participar da trama.


É quase impossível sobreviver. Não só na ficção. Os personagens escolhidos para participar dos jogos são profissionais, estudantes, um pouco de cada um de nós, submersos num mundo em que não conseguimos mais notar o diferente no caminho que percorremos para ir ao trabalho ou escola. Da mesma forma, podemos ser escolhidos a qualquer momento para ser um participante dos jogos mortais.


Normalmente, não deixamos que Deus guie nossa vida. Andamos com nossas próprias pernas e defendemos nosso próprio nariz em atos simples como não dar o lugar a outro numa fila, numa vaga de emprego, no estacionamento... Não estou repreendendo atitudes, tampouco dizendo que estamos errados. Não. Esse é o jogo da vida. Porém, nunca sabemos quando alguém vai querer brincar de Deus como o motorista que causou o segundo acidente na tragédia da semana passada e achar que pode fazer milagres com uma carreta sem freio, parando-a com um estalar de dedos.


A grande maioria de nós simplesmente não sabe viver. Os filmes citados hoje são chocantes. Proibidos para menores de 18 anos. Mas são como um tapa na cara, um puxão de orelha, um balde de água fria. Ás vezes indispensáveis para que vençamos o “Jogo da Vida”.


Play. Bom filme!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Pequena Miss Sunshine




É claro que você tem ou teve um grupo de seis amigos e se depara ou deparou com o tal dilema na hora de colocar todos no carro. Das duas uma. Ou você dá uma de coração de mãe ou junta coragem e pede para alguém arranjar outra carona, ainda que proponha sorteio ou “uni-duni-tê” na hora dolorosa. E entre as animadas conversas alguma vez (ou várias) já surgiu a idéia de fazerem uma vaquinha e comprarem uma kombi, que resolvesse o problema de todos. Eu diria que a sonhada kombi amarela é só um pequeno pretexto para você se identificar logo de cara com o filme da semana: Pequena Miss Sunshine.


Seja dentro da kombi, em que a família percorre milhares de quilômetros em busca do sonho da filha, ou fora dela, o filme nos transporta para dentro das cenas para tratar de uma bateria de temas como adolescência problemática, fracasso profissional, suicídio, desilusão amorosa, drogas e a felicidade em tamanho “p”.


Bem, nós ainda passamos pela fase em que ter 10 anos de idade e ser magrinho era sinônimo de, no mínimo, uma anemia. Aí vinha o coleguinha, gordo e corado, a coisa fofa da vó, esbanjando saúde. Depois a gente passa a bolachinha e água durante alguns anos da adolescência para permanecer (ou tentar) na calça tamanho 36 a vida toda. Estou me referindo às mulheres, mas os namorados, irmãos, pais, também sofrem por testemunhar isso. De alguma forma existe a exceção nas sextas-feiras. Mas só na sexta-feira. Talvez no sábado e domingo. Na segunda começa a dieta ou o suicídio psicológico.


O filme aborda uma realidade que preocupa. A busca do tamanho “p” é cada vez mais precoce. E não é cobrança da família, somente, mas do espelho, das crianças lindas das propagandas da Klin... e da própria ameaça de uma juventude contra a balança.


Oliver (Abigail Breslin) não é o que podemos chamar de garota propaganda. Tampouco a família. O irmão passa metade do filme se comunicando por bilhetes por causa de um pacto de silêncio que já durava nove meses, o vô é um doido, viciado em drogas, o tio um professor suicida, o pai um motivador fracassado e a mãe alguém quase normal. A problemática família, diga-se de passagem, é tão maluca quanto a de qualquer um de nós e um pouco mais. Juntos eles percorrem milhares de quilômetros pelo sonho de Oliver: ganhar um concurso de beleza infantil para garotas de sete anos e tornar-se a Pequena Miss Sunshine.


As situações são hilárias... imagine você e o seu grupo de seis amigos empurrando a kombi cada vez que tem que arrancar, com um cadáver no porta malas, com um de seus amigos mudos. Isso são só detalhes. E apesar de situações absurdas, todas são aventuras que podem acontecer com qualquer um de nós.


É inacreditável saber que o filme demorou cinco anos para ser patrocinado por um estúdio e mesmo assim custou somente oito milhões de dólares. Ok. Nem eu e, provavelmente, nem você sabemos o que significa essa quantia. Mas só para termos uma idéia, Os Infiltrados custou US$ 90 milhões... e, diga-se de passagem, Pequena Miss Sunshine é melhor em todos os sentidos. Elenco, trilha sonora, imagem, direção... e, além disso, concorreu ao Oscar de melhor filme com Os Infiltrados.


Resumindo. Nenhuma das pessoas que eu conheço, que assistiu o filme, falou qualquer coisa sobre não ter gostado. Muito pelo contrário. Se a sua família é fora do comum, acho um filme com um encaixe perfeito para que você repense este conceito. Serve na medida exata (neste caso não necessariamente “p”) para todos os gostos.


Play. Bom filme!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os infiltrados



Direção. Digna de um Oscar. Fotografia. Digna de um Oscar. Elenco, trilha sonora, efeitos especiais e QUASE toda a história. Dignos de um Oscar. Me infiltro nesta trama e se me permitam (eu, sim, peço licença) explicarei porque acho que “Os infiltrados” não mereceu o Oscar de melhor filme. Porém, assim como na película, deixo a causa para o fim.


Primeiro as informações que o tornaram o melhor de 2007 na opinião da cúpula do cinema mundial. Frank Costello (Jack Nicholson) é um mafioso de Boston cuja organização é infiltrada pelo informante Bill (Leonardo DiCaprio), ao mesmo tempo em que a máfia infiltra o informante Colin (Matt Damon) no Departamento de Polícia da cidade. Não existe mocinho, nem vilão. Pelo menos não aparentes.


Existem dois lados cada qual com um infiltrado tentando defender e atacar antes que o inimigo. E, pasmem. Nem Damon, nem DiCaprio. Quem toma conta da história é Jack Nicholson, seja batendo papo cheio de sangue ou sob uma chuva de cocaína, ele reina em cena como a encarnação de uma sociedade que muitas vezes diviniza e até protege a impunidade.


A trama é maravilhosamente costurada, enquanto as histórias paralelas (dos infiltrados) se passam em lugares, cenas e situações diferentes, embora interligadas de forma magistral por ninguém mais do que Martin Scorsese, diretor e roteirista conhecido no mundo todo por obras como “Touro Indomável” e “Cassino”. A indicação para receber o Oscar de melhor diretor foi a sétima da carreira. Nesta, finalmente e merecidamente, ele levou para casa a estatueta.


A trilha sonora também merece destaque. Logo na primeira cena, Scorsese mostra Jack Nicholson caminhando vagarosamente ao som de Rolling Stones. Ao longo do filme podemos ouvir ainda The Beach Boys e John Lennon, entre outros grandes nomes. Sob este cenário, embalados por estrelas da música, as circunstâncias eliminam o limite entre o bem e o mal. A mão que protege é a mesma que ataca. Mas eis que, na dúvida, Scorsese manda TODOS para inferno, literalmente.


Bem, se você ainda não assistiu lamento lhe dizer que contei o final. Um a um mocinhos e bandidos se eliminam como se fossem bolinhas num jogo de sinuca. A bola 8 é um ratinho, personagem cômico que surge no “the end”, sem ninguém mais para derrubar e eliminar o jogo. A partida de Scorsese, além das estatuetas, rendeu mais de 50 milhões de reais em ingressos nos três primeiros dias em cartaz, segundo a Warner Bros. Pictures. Os filmes anteriores do diretor não passaram dos R$ 20 milhões.


Não posso deixar de reconhecer que o filme é incomum. Daqueles poucos que não defendem X ou Y. Porém, não pude deixar de pensar no caráter didático que um filme com o gabarito de “Os infiltrados” possui. Não é novidade nenhuma sair à rua e ver dezenas de meninas e meninos “a lá Rebeldes” ou procurando Paulas e Danieis para uma história de amor perfeita. Os limites entre realidade e ficção não estão bem definidos para alguém com 70 anos (como nossos avós, que choram ao assistir uma cena de morte), imagine para um menino de 12 anos que se inspira nas estrelas de cinema para suas fantásticas aventuras reais, sonhando em pular de aviões, escalar montanhas, ganhar o coração de Angelina Jolie e ter meio mundo a seus pés.


Posso estar sendo exagerada, sim, mas é inevitável pensar na influência de um filme como o de Scorsese, cuja solução para tudo foi matar a todos, a sangue frio, ainda com uma boa dose de humor. Isto inclui até mesmo o filho assassinar o pai...


Já é difícil acreditar na instituição família, na religião, nos amigos, nos vizinhos, na política, e então vem alguém e diz “vão, matem, não há outro jeito mesmo”. O filme acaba e nós aplaudimos... Justamente como os pais de um menino que assistem, incentivando, quando aos dois ele faz uma arte, e que tempo depois, mesmo antes da maioridade, atônitos, percebem que já não têm controle sobre o espetáculo...

O bom pastor


João 10, 11 “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.” Assim, comparando com Jesus, que não abandona nenhuma de suas ovelhas, nasce o Bom Pastor. Um suspense que narra o surgimento da Central de Inteligência Americana (CIA), hoje com um rebanho de 30 mil membros. Para a antropologia, a cultura é uma lente através da qual enxergamos a cultura do outro.

É impossível não levar subjetividade a uma análise e percebemos com “nossos” olhos o outro. Mas para podermos compreender um pouco o que se passa no mundo e entre aqueles que o governam é imprescindível assistirmos o Bom Pastor – dirigido por Robert de Niro, que também atua no filme. A começar pela comparação que dá nome ao filme, há a prepotência de “ser Deus”, e o que para muitos é sinônimo de patriotismo para mim tem outro nome: ganância.

A história começa em Washington, capital americana, em 1961. Edward Wilson (Matt Damon) cumpre o ritual matutino antes de ir ao trabalho, na CIA. Ele planeja, sob sigilo absoluto, o desembarque de tropas americanas na Baía dos Porcos, na Cuba de Fidel Castro. Mas a notícia da invasão chegou aos ouvidos russos e o episódio ficou conhecido como um dos maiores desastres militares dos Estados Unidos.

O personagem então começa a lembrar da sua complexa vida e os acontecimentos vão desenrolando-se ao longo do filme. Escondido no guarda roupa, Edward espiava o pai, quando este o notou. Tirou-o de lá com um carinho diferente do que dispensara nos seis anos anteriores. “Nunca minta a seus amigos”, disse-lhe, enquanto pedia que se saísse para ouvir os fogos de artifício. O barulho de um tiro era diferente do barulho de fogos. O pai se matara.

Edward escondeu carta que ele deixou e contou a primeira de uma vida de mentiras: “Foi um acidente”. Na faculdade entrou para uma sociedade secreta alemã chamada “The Order”, que nos EUA ficou conhecida como Skull and Bones. Todos os anos apenas 15 homens são escolhidos. O objetivo é formar grandes líderes. De acordo com Antohony C. Sutton e Ron Rosenbaum, dois investigadores, a sociedade alemã seria, nada mais nada menos, a Seita dos Illuminati da qual fazem parte os nomes mais influentes do mundo (quem assistiu ou leu O código da Vinci deve lembrar-se). E ainda afirmam que teria também uma ligação com a Maçonaria, sendo o ritual, a decoração e os símbolos da “The Order” idênticos aos de muitas lojas maçônicas alemãs em atividade nos finais dos Séculos XVIII-XIX.

No grupo, foi recrutado para fazer parte do recém-criado na OSS - Escritório de Serviços Estratégicos - que mais tarde se transformaria na CIA. Nesse meio tempo, Wilson conheceu Margareth Clover (Angelina Jolie), com quem teve uma transa casual. A moça engravidou, os dois se casaram, embora sem nunca tê-la amado. Em seguida, Wilson é chamado para a Segunda Guerra Mundial. O idealismo dá lugar ao nacionalismo cego. Não pode confiar em ninguém e passa por cima de qualquer princípio, inclusive familiar, pela soberania do país.

Torna-se o coração e a alma da CIA. São quase três horas – um chá de poltrona – mas que valem a pena. O maior mérito sem dúvida é a reflexão sobre o exacerbado patriotismo americano, que lá é motivo de orgulho. O outro é diferente. É menos. Merece ser esmagado como formiga. É isto que eu, com minha lente, percebo de toda a história e dos motivos que levam às disputas de poder.

De Niro, com o roteiro de Eric Roth (Forrest Gump) mostra como as mentiras podem consumir um homem. Edward, que na vida real se chama James Jesus Angleton, é um prisioneiro de si mesmo e do mundo que ele criou. No fim do filme, sentado a sua mesa, ele enfim abre a carta que o pai deixou. Lá estava o desejo do pai. Tudo o que ele, Edward, nunca foi, desde que proferiu a primeira mentira.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A menina e o porquinho



Numa noite chuvosa, a menina ouve um barulho estranho, vindo do celeiro. Curiosa, pega a capa de chuva e corre até lá, onde encontra o pai, a porca e 11 porquinhos, recém nascidos. Um deles, porém, provavelmente morreria, pois além de ser menor a ‘mãe’ não poderia alimentá-lo. Quando o pai quis sacrificá-lo, a menina se propôs a cuidar.
Nasce então “A menina e o porquinho”, uma amizade incomum, dessas em que é que é possível se entender por um olhar. Alguns meses depois, com perspectiva nada agradável de ter um animal de 150kg dormindo com a filha, o pai pede que ela leve o porquinho, a quem deu o nome de Wilbur, para um celeiro.
Lá começa outra história encantadora entre ele e os animais do celeiro, gansos, ovelhas, cavalos, um rato e uma aranha chamada Charlotte – a amiga especial que inspira um conto que mistura companheirismo, afeto e ficção científica. É no celeiro que Wilbur descobre que os porcos nascidos na primavera dificilmente chegam a ver as primeiras nevascas do ano. Charlotte então faz uma promessa a ele: vai dar um jeito para que ele consiga essa façanha.
O porquinho que procurava um milagre para sobreviver acaba encontrando esse milagre com a ajuda da aranha especial e sua famosa teia. A "A Teia de Charlotte" é um livro infantil que já embalou o sono de muitas crianças. Foi escrito por E.B.White em 1952 e é um dos livros infantis mais vendidos de todos os tempos. Em 1973, devido ao sucesso, se transformou em filme através do estúdio Hanna-Barbera.

A nova versão, lançada no início deste ano, segue a mesma fórmula, mas com atores de verdade, combinando animais reais com movimentos auxiliados por efeitos especiais. Some a tudo isso o trabalho fantástico de um elenco de voz estelar, incluindo Julia Roberts no papel de Charlotte, Oprah Winfrey (uma gansa tagarela) e Dominic Scott Kay, de 10 anos, no papel central de Wilbur, o porquinho. A maioria das filmagens ocorreu na Austrália.

Porém, como não estava na estação correta em relação à história, as árvores foram pintadas com tinta não-tóxica de laranja e amarelo, de forma que parecessem estar no outono e o efeito, convenhamos, ficou perfeito. É um filme infantil? Só se eu e uma legião de grandinhos (na idade, pelo menos) formos incluídos nessa categoria. De espetacular no filme, só que os porcos, cavalos, ratos, etc. falam e a aranha além disso ainda tece a salvação do porquinho.

De espetacular na história, uma teia de sentimentos, de amor, amizade, que transpassam diferenças e tornam um ideal possível. Não que seja possível os animais falarem e uma aranha escrever “O porco é demais” em sua teia, mas é uma lição de vida sabermos que o Pedro, o Paulo, o José, cada um com sua cor, sexo, nacionalidade, classe social podem viver no mesmo “celeiro”, como amigos. Mais do que isso, é um filme para toda a família. Para chamar o marido, os filhos, a mãe, a tia, reunião cada vez mais rara, e se emocionar diante da magia da menina e do porquinho.

A procura da felicidade

Lá estava ele com seu carrinho “pro gasto”, que andava, em todo caso, quando um homem lhe pediu a vaga no estacionamento. O homem e o sonho de consumo de meio mundo: uma Ferrari. “Sim, pode estacionar, mas me responda duas perguntas: O que você faz? E como você faz?”, indaga o protagonista, dono de uma inconfundível vida de “azarado”, como costumamos dizer. O dono da Ferrari disse que era corretor da Bolsa de Valores. “Precisa de faculdade?”, pergunta, ainda, o azarado. Não, o único requisito é saber fazer contas.
Surge aí um obstinado “Á procura da felicidade”. Levante a mão aí quem não está, constantemente, em busca de dias melhores. Parece desnecessário assistir um filme assim sabendo que nossa vida é a própria procura. Mais ainda pensando que por mais que sigamos a risca o caminho do outro, é improvável chegarmos ao mesmo lugar.
No entanto, o filme é muito mais do que podemos pressupor pelo título. Se o telefone foi cortado, a mulher da loja de roupas já ligou, cobrando uma conta, e você já está pensando em se mudar para um apartamento menor, pense bem antes de reclamar ao papai do céu.
Chris Gardner, interpretado por Will Smith, é a prova viva que a Lei de Murphy pode ser pior do que foi para qualquer um de nós. Tudo o que poderia dar errado em sua vida, deu. Perdeu a esposa, a casa, o carro e suas economias em um investimento furado em scanners ósseos. Tudo? Quase. As únicas coisas que nunca perdeu foram o filho e a esperança de trabalhar na Bolsa e comprar uma Ferrari.
Felizmente, há outro ditado que diz que no fim tudo dá certo...e não é porque é cinema e esperamos um final feliz, invariavelmente. Chris Gardner tem um livro e até uma participação no filme, que comprovam que de fato ele existe. Enquanto olhava para a Ferrari, ele era todos, o corretor a exceção. Alguns anos depois, ele era a própria exceção. O livro escrito por Chris, “The pursuit of happyness”, foi adaptado pelo diretor italiano Grabrielle Muccino, e o nome não vem da busca, propriamente, mas traduz um dos artigos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, escrita por Thomas Jefferson. Nele, Jefferson diz que todos têm direito à procura da felicidade. O Happyness também é escrito com “y”, quando o correto seria “happiness”, com “i”. A troca remete à felicidade cujo acesso chega distorcido não apenas gramaticalmente, mas também semanticamente, àqueles cujas oportunidades são restringidas pelas condições sociais. Jefferson, na Declaração, ainda cita outra frase na qual diz que acredita muito na sorte, mas quanto mais duro ele trabalha, mais a tem.
Enquanto, incansáveis, muitos preenchem bilhetes de loteria, outros cavam com afinco o local onde colocarão os pilares da construção de suas vidas. A história se passa na década de 80 e na época realmente a universidade era quase utopia. Hoje, porém, a chance, sem ela, é quase como jogar na Mega Sena. E ainda assim o diploma é apenas um papel, que se consome em segundos, como uma palha em chamas, se não buscarmos oportunidades, obstinados.
Com 25 dólares no bolso, pouco mais de cinqüenta reais, o protagonista, que a esta altura dormia em estações de metrô e abrigos para mendigos, poderia ter comprado alguns litros de bebida e se transformado em um alcoólatra, a exemplo do pai e de muitos outros na mesma situação. Porém, ele transformou o valor em 600 milhões de dólares, sem titubear ou deixar de dar um beijo de boa noite ao filho, com todo o amor do mundo, embora o estômago estivesse vazio.
É claro que não devemos nos tornar escravos do tênis, da calça jeans, da Ferrari... Mas obstinados em realizar nossos sonhos, sem desistir no meio do caminho, reclamando do escuro, do frio, da pedra pontiaguda, da multa de trânsito, do governo. Além disso, tecnicamente, Will Smith prova que não serve só para comédias, e seu filho, Jaden Smith, que interpreta o filho também no filme, mostra que não serve somente para ser um leão numa peça escolar – sua maior atuação antes deste papel.
Resumindo. O filme é um drama. De fazer chorar em bicas. No entanto, é fantástico, desses de deixar na estante e assistir quando a Lei de Murphy bater na porta. Trata-se de uma lição de moral, literalmente. Na pior das situações, o protagonista não esquece seus valores. Prova que a integridade não depende do saldo bancário e nem a falta de dinheiro forma bandidos. Não precisamos de 600 milhões de dólares. Isto Gardner deixa bem claro. A lição é humana. Tão terna quanto um abraço de pai. Somos envolvidos pelos braços do herói e por fim nos sentimos seguros, protegidos, na nossa constante busca da felicidade... Play! Bom Filme!

Diamante de sangue

Uma família feliz. O menino queria ser médico e andava quilômetros para chegar à escola. E isto era somente um dos ínfimos caminhos que deveria percorrer em busca do sonho. Num continente historicamente marcado por guerras e tragédias. Mas ele sonhava.
De repente a guerra começa. Primeiro pela sobrevivência. Depois pelo “Diamante de Sangue”. Logo, o menino é um adulto em miniatura. Perde a identidade. O sonho. O amor pela família. E o que resta? Lembranças, com um fuzil na mão e uma mira incerta, desviada do caminho, insegura, sem qualquer firmeza diante do poder da arma. “Crianças matando, crianças inimigas”...
Por um bom tempo após assistir o filme cantarolei essa música, de um dos meus grupos favoritos – Biquíni Cavadão – porque poderia ser colocada como pano de fundo para a trama de Edward Zwick. Antes de refletir sobre o que estava assitindo, pensei na quantidade de filmes sobre o continente africano e pensei em parar e partir para outro.
Então, percebi que por mais filmes que se façam, as tragédias continuam, uma sucessão de chacinas de famílias inteiras por milícias africanas – do próprio país, não bastasse a guerra que enfrentam diariamente para defender as terras de estrangeiros. E, ironicamente, em tempos de dinastia de Bush, o personagem principal – Solomon – ainda faz o comentário: "Tomara que nunca encontrem petróleo aqui. Aí, sim, teríamos problemas".
Enquanto não encontram, a ficção por vezes esbarra com a realidade, uma linha tênue que mostra de forma surpreendente o contrabando de minérios e da guerra civil em Serra Leoa - um dos países com o índice de desenvolvimento humano mais baixo mundo. E cujos índices de violência tornam a favela da rocinha um lugar de paz.
Fiquei horrorizada, atemorizada, e todos os adjetivos que poderia citar para expressar um sentimento de impotência e tristeza. E os vários outros filmes, "Hotel Ruanda", "Lugar Nenhum na África", "Amor sem Fronteiras", entre outros, não chegam aos pés da crueza que o diretor apresenta em "Diamante de Sangue". Pela tragédia, de forma humanizada, mas também pela capacidade de transportar para a tela, de forma quase didática, como funciona um mecanismo de exploração e sua função na carnificina de um país.
“De manga curta ou comprida?” – pede o guerrilheiro. Com lágrimas nos olhos o menino mira o chão, minimizado, um grão de areia num deserto humano de sofrimento. O guerrilheiro baixa o machado. Manga Curta. Faz calor na Áfica. A mão direta incapaz de lavar a esquerda pra sempre.
“O ódio, a discórdia a ganância e a guerra”... ouçam a música... ela embala nossa indignação...antes do play e após o filme...

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O grande Truque

Quantas vezes temos a impressão de que a vida é um grande truque? O que temos nas mãos é como uma bolinha que aparece no instante seguinte em outro lugar.
E qual é o preço de um segredo? O Grande Truque é um pouco da magia de um espetáculo transportada para uma produção cinematográfica, para não dizer que é uma verdadeira mágica transformada em filme. Desde Georges Mélies, que inventou a câmera, os cineastas transformaram o cinema em mágica ou truque, como queiram, em que os bons só revelam seus segredos no fim, isto porque os espectadores assim requisitam de um ótimo filme.
Contudo, em O Grande Truque ainda precisamos alguns minutos, senão mais, após o filme, para digerir as informações e ver o que está sob o palco ou por trás da cartola. Christopher Nolan é um destes cineastas não-convencionais, que constrói, desconstrói, criando enigmas brilhantes e desfechos surpreendentes.
Foi assim em Amnésia, quando contou uma história de trás pra frente, de forma ousada e fantástica. Parece fácil transformar em magia um filme sabendo que o cinema por si só é feito por cortes e efeitos especiais, mas o filme é mais do que isso, é um duelo entre dois mágicos - Rupert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) - pela perfeição, uma obsessiva disputa que chega às piores conseqüências.
Em certo momento, o que move os dois não é mais o amor pela profissão, mas a necessidade esmagadora de derrotar o adversário, de descobrir o segredo do grande truque. Assim, é, sobretudo, uma reflexão sobre a existência humana, sobre o preço que pagamos por um segredo ou apenas na busca dele, sem nunca realmente encontrá-lo.
A mágica faz pensar, o filme faz pensar, capacidade nata, mas qualidade cada vez mais rara no ser humano. Afinal, quem realmente pára e pensa nas peças que a vida nos prega? O que tem de tão bom no filme?
Experimente contar uma história de 133 minutos na ordem cronológica sem deixar seu ouvinte entediado, e então pense que Nolan fez isso em uma ordem nada convencional, retalhando informações, nos mostrando peças, como um quebra cabeças, em que só a ultima revela a figura na totalidade. Então espere até subirem os créditos para fazer qualquer comentário.

A casa do lago



No meio do caminho tinha uma casa... e tinha uma casa no meio do caminho. De quem? Quando? Imaginei-me andando por um longo caminho, longe da “civilização”, numa casa de vidro projetada sobre um lago. No outono as folhas vermelhas cobrem o chão, como fogo que crepita sem queimar, apenas embeleza. No inverno a neve forma um tapete de plumas brancas e na primavera as flores tomam conta do cenário, deixando-o ainda mais deslumbrante. Paraíso? Sim, talvez, mas o importante é que somos convidados a entrar na casa. No meio do caminho. “A Casa do Lago”.


Entre! Fique à vontade. Também vou. Quem não quer ir pro paraíso? Entramos num filme que nos faz sonhar, torcer por um romance em que talvez os protagonistas nunca se encontrem.


A Casa do Lago (2006) é uma versão da Warner Bros do filme sul-coreano Siworae e marca o reencontro de Keanu Reeves e Sandra Bullock. Após o aniversário de doze anos de Velocidade Máxima (1994).


Sandra interpreta Kate Foster, uma médica recém formada que se muda para a cidade após morar alguns anos na casa do Lago. Não precisa nenhum suspense para dizer que o novo morador é Keanu Reeves, ou melhor, Alex Miller, arquiteto que apesar de talentoso possui alguns problemas de relacionamento com o pai, também arquiteto, que projetou a casa.


Ainda no início do filme, a bela médica se sente cansada da rotina do hospital vai até a casa do lago, onde encontra, na caixa do correio, uma carta, endereçada a ela! Era a resposta a um bilhete que escrevera ao novo morador, quando partiu da casa.


Um romance perfeito de um casal que já provou sua química. Não fosse por um detalhe de setecentos e trinta dias. Ele vive no ano de 2004 e ela em 2006! É claro, até darem-se conta do que isso significa se vão algumas bacias de pipoca e unhas dos espectadores mais aflitos, além de várias cartas.


Eles passam a maior parte do tempo separados. No entanto, há uma grande cumplicidade entre os dois. O que os une são as cartas, o que os separa é o tempo. Em comum, apenas o endereço das correspondências.


A caixa de correio tem a estranha capacidade de permitir que a as cartas viajem no tempo. Como isso é possível é o que menos importa. Ao mesmo tempo que inverossímil, o diretor, Alejandro Agresti, e o roteirista, David Auburn, construíram um conto de fadas moderno que pede apenas uma coisa: que nos rendamos a fantasia do cinema, suspendendo qualquer lógica. Não pergunte, apenas se renda a trama, pensando muito mais nos emaranhados da vida do que a impossibilidade da ficção.


Afinal, são apenas dois anos. Para Kate o encontro pode ser no dia seguinte, para Alex daqui a dois anos e um dia... e pode não ser tão perfeito como planejado ou mais do que isso ou ainda não haver encontro. Surpresa!


Ah, se você é daqueles que insiste em pensar, como eu, deixe para depois comentários como “além de falar de amor, por que ela não escreve contando quais os próximos números premiados da loteria?” ou “eles nunca pensaram em usar e-mail para ver o que acontece?” etc, etc, etc.


Depois do filme. Com uma pitada de humor e ainda assim sem duvidar um segundo da excelência da história. Ótimo para assistir enquanto o friozinho não vai embora, enquanto estamos apaixonados ou a procura de um amor...
Play. Bom filme!

P.S Os mais sensíveis, preparem um lencinho!

Parte I


Parte I


Em 3 de setembro de 1973, às 18:28:32, um espermatozóide alcança um óvulo. Entre milhares aquele ganha a corrida e torna-se, já ali, um vencedor. Poderia ser a minha história, ou a sua, mas nem com um cronômetro nossos pais poderiam saber o momento exato da nossa primeira vitória. A não ser, um grande diretor, criativo pó excelência, que resolve transformar a vida num fabuloso destino.


Me chamo Géssica, mas gostaria de me apresentar nesta coluna como alguém que utopicamente gostaria de ser. Prazer, Amélie Poulain, uma moça curiosa que um dia achou uma caixinha de “tesouros” escondida sob um azulejo do banheiro por um menino, décadas antes, e então começou a operar milagres na vida das pessoas, através de atos tão pequenos quanto devolver a caixa ou trocar uma maçaneta de lugar. A Géssica não fez nada disso. Não é garçonete, é estudante de Jornalismo, nasceu no dia 24 de setembro de 1986 e não achou nenhum tesouro do banheiro, nem em nenhum lugar da casa específico. Porém, achou o que pode chamar de descoberta numa locadora e aí sim seu único “lado” Amélie se manifestou: “Que filme é esse que não vi em nenhum cartaz de cinema, nem em nenhuma propaganda de TV ou revista?”.



A curiosidade a ajudou a encontrar este tesouro, uma narrativa encantadora que nos torna cúmplices e é capaz também de mudar nossa vida. Confesso que ainda não realizei nenhuma maravilha na vida de ninguém, tal como Poulain, mas ficou a vontade de servir para mudar o dia, a hora, o instante que seja de todos e qualquer um.


Estudo na Universidade Federal de Santa Maria (RS) e estarei aqui sempre que puder, semanalmente, para “falar” sobre um assunto que adoro: cinema, e quem sabe através dele conseguir, mesmo minimamente, tal façanha... mais uma vitória!


Calma! Não vou invadir sua casa e pedir um espaço no sofá, apenas sugerir opções para as sessões pipoca, brigadeiro, namorado, família ou qualquer que seja a companhia para um bom filme. Se minha curiosidade puder ajudar já nesta primeira semana, as luzes se apagam (se você assim preferir) e “O Fabuloso destino de Amelie Poulain” está pronto para começar.


Play. Bom filme! P.S Espero merecer ser bem recebida, mas o controle principal está com você. Se o filme estiver chato: “Stop”!