sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Diamante de sangue

Uma família feliz. O menino queria ser médico e andava quilômetros para chegar à escola. E isto era somente um dos ínfimos caminhos que deveria percorrer em busca do sonho. Num continente historicamente marcado por guerras e tragédias. Mas ele sonhava.
De repente a guerra começa. Primeiro pela sobrevivência. Depois pelo “Diamante de Sangue”. Logo, o menino é um adulto em miniatura. Perde a identidade. O sonho. O amor pela família. E o que resta? Lembranças, com um fuzil na mão e uma mira incerta, desviada do caminho, insegura, sem qualquer firmeza diante do poder da arma. “Crianças matando, crianças inimigas”...
Por um bom tempo após assistir o filme cantarolei essa música, de um dos meus grupos favoritos – Biquíni Cavadão – porque poderia ser colocada como pano de fundo para a trama de Edward Zwick. Antes de refletir sobre o que estava assitindo, pensei na quantidade de filmes sobre o continente africano e pensei em parar e partir para outro.
Então, percebi que por mais filmes que se façam, as tragédias continuam, uma sucessão de chacinas de famílias inteiras por milícias africanas – do próprio país, não bastasse a guerra que enfrentam diariamente para defender as terras de estrangeiros. E, ironicamente, em tempos de dinastia de Bush, o personagem principal – Solomon – ainda faz o comentário: "Tomara que nunca encontrem petróleo aqui. Aí, sim, teríamos problemas".
Enquanto não encontram, a ficção por vezes esbarra com a realidade, uma linha tênue que mostra de forma surpreendente o contrabando de minérios e da guerra civil em Serra Leoa - um dos países com o índice de desenvolvimento humano mais baixo mundo. E cujos índices de violência tornam a favela da rocinha um lugar de paz.
Fiquei horrorizada, atemorizada, e todos os adjetivos que poderia citar para expressar um sentimento de impotência e tristeza. E os vários outros filmes, "Hotel Ruanda", "Lugar Nenhum na África", "Amor sem Fronteiras", entre outros, não chegam aos pés da crueza que o diretor apresenta em "Diamante de Sangue". Pela tragédia, de forma humanizada, mas também pela capacidade de transportar para a tela, de forma quase didática, como funciona um mecanismo de exploração e sua função na carnificina de um país.
“De manga curta ou comprida?” – pede o guerrilheiro. Com lágrimas nos olhos o menino mira o chão, minimizado, um grão de areia num deserto humano de sofrimento. O guerrilheiro baixa o machado. Manga Curta. Faz calor na Áfica. A mão direta incapaz de lavar a esquerda pra sempre.
“O ódio, a discórdia a ganância e a guerra”... ouçam a música... ela embala nossa indignação...antes do play e após o filme...

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