segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os infiltrados



Direção. Digna de um Oscar. Fotografia. Digna de um Oscar. Elenco, trilha sonora, efeitos especiais e QUASE toda a história. Dignos de um Oscar. Me infiltro nesta trama e se me permitam (eu, sim, peço licença) explicarei porque acho que “Os infiltrados” não mereceu o Oscar de melhor filme. Porém, assim como na película, deixo a causa para o fim.


Primeiro as informações que o tornaram o melhor de 2007 na opinião da cúpula do cinema mundial. Frank Costello (Jack Nicholson) é um mafioso de Boston cuja organização é infiltrada pelo informante Bill (Leonardo DiCaprio), ao mesmo tempo em que a máfia infiltra o informante Colin (Matt Damon) no Departamento de Polícia da cidade. Não existe mocinho, nem vilão. Pelo menos não aparentes.


Existem dois lados cada qual com um infiltrado tentando defender e atacar antes que o inimigo. E, pasmem. Nem Damon, nem DiCaprio. Quem toma conta da história é Jack Nicholson, seja batendo papo cheio de sangue ou sob uma chuva de cocaína, ele reina em cena como a encarnação de uma sociedade que muitas vezes diviniza e até protege a impunidade.


A trama é maravilhosamente costurada, enquanto as histórias paralelas (dos infiltrados) se passam em lugares, cenas e situações diferentes, embora interligadas de forma magistral por ninguém mais do que Martin Scorsese, diretor e roteirista conhecido no mundo todo por obras como “Touro Indomável” e “Cassino”. A indicação para receber o Oscar de melhor diretor foi a sétima da carreira. Nesta, finalmente e merecidamente, ele levou para casa a estatueta.


A trilha sonora também merece destaque. Logo na primeira cena, Scorsese mostra Jack Nicholson caminhando vagarosamente ao som de Rolling Stones. Ao longo do filme podemos ouvir ainda The Beach Boys e John Lennon, entre outros grandes nomes. Sob este cenário, embalados por estrelas da música, as circunstâncias eliminam o limite entre o bem e o mal. A mão que protege é a mesma que ataca. Mas eis que, na dúvida, Scorsese manda TODOS para inferno, literalmente.


Bem, se você ainda não assistiu lamento lhe dizer que contei o final. Um a um mocinhos e bandidos se eliminam como se fossem bolinhas num jogo de sinuca. A bola 8 é um ratinho, personagem cômico que surge no “the end”, sem ninguém mais para derrubar e eliminar o jogo. A partida de Scorsese, além das estatuetas, rendeu mais de 50 milhões de reais em ingressos nos três primeiros dias em cartaz, segundo a Warner Bros. Pictures. Os filmes anteriores do diretor não passaram dos R$ 20 milhões.


Não posso deixar de reconhecer que o filme é incomum. Daqueles poucos que não defendem X ou Y. Porém, não pude deixar de pensar no caráter didático que um filme com o gabarito de “Os infiltrados” possui. Não é novidade nenhuma sair à rua e ver dezenas de meninas e meninos “a lá Rebeldes” ou procurando Paulas e Danieis para uma história de amor perfeita. Os limites entre realidade e ficção não estão bem definidos para alguém com 70 anos (como nossos avós, que choram ao assistir uma cena de morte), imagine para um menino de 12 anos que se inspira nas estrelas de cinema para suas fantásticas aventuras reais, sonhando em pular de aviões, escalar montanhas, ganhar o coração de Angelina Jolie e ter meio mundo a seus pés.


Posso estar sendo exagerada, sim, mas é inevitável pensar na influência de um filme como o de Scorsese, cuja solução para tudo foi matar a todos, a sangue frio, ainda com uma boa dose de humor. Isto inclui até mesmo o filho assassinar o pai...


Já é difícil acreditar na instituição família, na religião, nos amigos, nos vizinhos, na política, e então vem alguém e diz “vão, matem, não há outro jeito mesmo”. O filme acaba e nós aplaudimos... Justamente como os pais de um menino que assistem, incentivando, quando aos dois ele faz uma arte, e que tempo depois, mesmo antes da maioridade, atônitos, percebem que já não têm controle sobre o espetáculo...

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