quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O grande Truque

Quantas vezes temos a impressão de que a vida é um grande truque? O que temos nas mãos é como uma bolinha que aparece no instante seguinte em outro lugar.
E qual é o preço de um segredo? O Grande Truque é um pouco da magia de um espetáculo transportada para uma produção cinematográfica, para não dizer que é uma verdadeira mágica transformada em filme. Desde Georges Mélies, que inventou a câmera, os cineastas transformaram o cinema em mágica ou truque, como queiram, em que os bons só revelam seus segredos no fim, isto porque os espectadores assim requisitam de um ótimo filme.
Contudo, em O Grande Truque ainda precisamos alguns minutos, senão mais, após o filme, para digerir as informações e ver o que está sob o palco ou por trás da cartola. Christopher Nolan é um destes cineastas não-convencionais, que constrói, desconstrói, criando enigmas brilhantes e desfechos surpreendentes.
Foi assim em Amnésia, quando contou uma história de trás pra frente, de forma ousada e fantástica. Parece fácil transformar em magia um filme sabendo que o cinema por si só é feito por cortes e efeitos especiais, mas o filme é mais do que isso, é um duelo entre dois mágicos - Rupert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) - pela perfeição, uma obsessiva disputa que chega às piores conseqüências.
Em certo momento, o que move os dois não é mais o amor pela profissão, mas a necessidade esmagadora de derrotar o adversário, de descobrir o segredo do grande truque. Assim, é, sobretudo, uma reflexão sobre a existência humana, sobre o preço que pagamos por um segredo ou apenas na busca dele, sem nunca realmente encontrá-lo.
A mágica faz pensar, o filme faz pensar, capacidade nata, mas qualidade cada vez mais rara no ser humano. Afinal, quem realmente pára e pensa nas peças que a vida nos prega? O que tem de tão bom no filme?
Experimente contar uma história de 133 minutos na ordem cronológica sem deixar seu ouvinte entediado, e então pense que Nolan fez isso em uma ordem nada convencional, retalhando informações, nos mostrando peças, como um quebra cabeças, em que só a ultima revela a figura na totalidade. Então espere até subirem os créditos para fazer qualquer comentário.

Nenhum comentário: