terça-feira, 9 de outubro de 2007

Pequena Miss Sunshine




É claro que você tem ou teve um grupo de seis amigos e se depara ou deparou com o tal dilema na hora de colocar todos no carro. Das duas uma. Ou você dá uma de coração de mãe ou junta coragem e pede para alguém arranjar outra carona, ainda que proponha sorteio ou “uni-duni-tê” na hora dolorosa. E entre as animadas conversas alguma vez (ou várias) já surgiu a idéia de fazerem uma vaquinha e comprarem uma kombi, que resolvesse o problema de todos. Eu diria que a sonhada kombi amarela é só um pequeno pretexto para você se identificar logo de cara com o filme da semana: Pequena Miss Sunshine.


Seja dentro da kombi, em que a família percorre milhares de quilômetros em busca do sonho da filha, ou fora dela, o filme nos transporta para dentro das cenas para tratar de uma bateria de temas como adolescência problemática, fracasso profissional, suicídio, desilusão amorosa, drogas e a felicidade em tamanho “p”.


Bem, nós ainda passamos pela fase em que ter 10 anos de idade e ser magrinho era sinônimo de, no mínimo, uma anemia. Aí vinha o coleguinha, gordo e corado, a coisa fofa da vó, esbanjando saúde. Depois a gente passa a bolachinha e água durante alguns anos da adolescência para permanecer (ou tentar) na calça tamanho 36 a vida toda. Estou me referindo às mulheres, mas os namorados, irmãos, pais, também sofrem por testemunhar isso. De alguma forma existe a exceção nas sextas-feiras. Mas só na sexta-feira. Talvez no sábado e domingo. Na segunda começa a dieta ou o suicídio psicológico.


O filme aborda uma realidade que preocupa. A busca do tamanho “p” é cada vez mais precoce. E não é cobrança da família, somente, mas do espelho, das crianças lindas das propagandas da Klin... e da própria ameaça de uma juventude contra a balança.


Oliver (Abigail Breslin) não é o que podemos chamar de garota propaganda. Tampouco a família. O irmão passa metade do filme se comunicando por bilhetes por causa de um pacto de silêncio que já durava nove meses, o vô é um doido, viciado em drogas, o tio um professor suicida, o pai um motivador fracassado e a mãe alguém quase normal. A problemática família, diga-se de passagem, é tão maluca quanto a de qualquer um de nós e um pouco mais. Juntos eles percorrem milhares de quilômetros pelo sonho de Oliver: ganhar um concurso de beleza infantil para garotas de sete anos e tornar-se a Pequena Miss Sunshine.


As situações são hilárias... imagine você e o seu grupo de seis amigos empurrando a kombi cada vez que tem que arrancar, com um cadáver no porta malas, com um de seus amigos mudos. Isso são só detalhes. E apesar de situações absurdas, todas são aventuras que podem acontecer com qualquer um de nós.


É inacreditável saber que o filme demorou cinco anos para ser patrocinado por um estúdio e mesmo assim custou somente oito milhões de dólares. Ok. Nem eu e, provavelmente, nem você sabemos o que significa essa quantia. Mas só para termos uma idéia, Os Infiltrados custou US$ 90 milhões... e, diga-se de passagem, Pequena Miss Sunshine é melhor em todos os sentidos. Elenco, trilha sonora, imagem, direção... e, além disso, concorreu ao Oscar de melhor filme com Os Infiltrados.


Resumindo. Nenhuma das pessoas que eu conheço, que assistiu o filme, falou qualquer coisa sobre não ter gostado. Muito pelo contrário. Se a sua família é fora do comum, acho um filme com um encaixe perfeito para que você repense este conceito. Serve na medida exata (neste caso não necessariamente “p”) para todos os gostos.


Play. Bom filme!

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