sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Maria - cheia de graça




Maria Alvarez é uma jovem colombiana que trabalha arrancando espinhos de rosas que serão exportadas por seu patrão, miserável e mesquinho.


Ela divide uma casa com a mãe, a irmã e o sobrinho bebê e vive de forma difícil e humilde, com poucas ou nenhuma perspectiva de um futuro melhor. Para piorar, descobre estar grávida do namorado (cuja situação financeira é ainda pior, já que mora com dez parentes).


Assim, a garota percebe que sua vida se tornará ainda mais complicada e é então que alguém lhe oferece uma pequena fortuna caso ela aceite trabalhar como "mula", ou seja, contrabandear drogas utilizando, como esconderijo, o próprio aparelho digestivo. É assim que começa "Maria Cheia de Graça", um filme de muita sensibilidade e que retrata o cotidiano difícil de milhares de pessoas, que podem ser eu ou você.


Aliás, esta é uma das grandes forças da produção: na maior parte do tempo, os personagens se comportam e conversam como pessoas reais que enfrentam situações morais complexas. E, no caso específico da protagonista, a questão-chave é: ela pode se dar ao luxo de ser escolher?


Para Maria, esta não é uma decisão que envolve princípios, mas necessidades. Buscando sempre a autenticidade, o diretor dedica um bom tempo do filme ao objetivo de retratar cada detalhe da atividade de "mula", desde o processo de preparação dos pequenos sacos com droga até a "liberação" do material do outro lado da fronteira, passando até mesmo pela dificuldade em engolir os mais de 60 pacotinhos que vai ser transportado no estômago. E o mais assustador: será que os pacotes não vão estourar, assim que chegarem ao estômago? Se isso acontecer, ela imediatamente morre por overdose.


A viagem também é cheia de tensões, longa, dramática. Com a possibilidade de morrer ou apenas ser descoberta, o que não daria cadeia aos traficantes, responsáveis pela droga, mas à Maria e as dezenas de jovens que se submetem ao trabalho, a maioria por necessidade.


O elenco inteiro é louvável, com uma brilhate atuação. Porém, quem se destaca é Maria, vivida por Catalina Sandino Moreno, que fez sua estreia no filme. Ela é uma daquelas atrizes que prendem o olhar do espectador, que percebe o sutil trabalho de construção da personagem, a ponto de nos fazer acreditar que ele existe, é real. Muitos outros momentos poderiam ser citados, mas Maria Cheia de Graça traz uma lição de vida. Reclamamos tanto e temos tudo. É preciso tão pouco para ser feliz... No entanto, precisamos de tantas coisas, principalmente materiais, para estarmos contentes. Ainda assim, querendo mais... Dinheiro, fama, poder, enquanto o mundo padece de carinho, de cuidado, de doenças que nem o homem mais rico do mundo pode escapar.


Esta semana, tire um tempinho para pensar nas coisas que te fazem realmente feliz e busque-as. Tente, sobretudo, ser mais sensível, mais humano, mais amoroso com sua família, com a mesma dedicação com que trabalha para ter. Maria nos inspira a sermos melhores! Play e ótimo filme!

Prova de Fogo




O filme da semana não é Hollywoodiano, não ganhou Oscar, nem foi indicado ao Cannes, mas deveria ganhar muitos prêmios pela belíssima história e pelo efeito que causa na vida de quem o assiste. Trata-se de “A prova de fogo”.


O filme conta a história de Caleb Holt (interpretado por Kirk Cameron), um bombeiro que se dedica ao serviço e ao próximo acima de tudo. Apaga incêndios, salva vidas, doa-se a desconhecidos sem hesitar. Porém, a parceria mais importante de sua vida, ou seja, seu casamento, está prestes a se transformar em fumaça, consumido pelo fogo, sem que ele faça nada para salvá-lo.


Isto até encontrar-se com seu pai e este lhe propor uma tarefa: adiar o divórcio em 40 dias e durante este período realizar o “Desafio do Amor”, que também salvara o casamento deles.
Inicialmente hesitante, um colega de trabalho o ajuda a entender como o lema dos bombeiros: “Nunca deixe seu parceiro para trás”, serve também para aquela situação. Neste caso, ser “a prova de fogo” não significa que não possa ser incendiado, mas que aguente os efeitos e supere as dificuldades. Cada dia trazia uma pequena proposta, uma mudança quase simbólica, mas capaz de operar milagres. No primeiro dia ele precisava apenas conter a raiva e não dizer nenhuma palavra que pudesse agredir a esposa.

Simples quando está tudo bem, difícil quando há diferenças, adversidades e, principalmente, quando já não há mais respeito e confiança ou somente migalhas disso.


No segundo dia, além de não dizer nenhuma palavra rude, deveria fazer uma gentileza. Ele preparou cuidadosamente o café da manhã, para ouvi-la dizer que não havia mais tempo para isso.


Desistir? Muitas vezes pensou nisso! Mas, afinal, o pai pedira-lhe 40 dias, não apenas 2, 10 ou 20.


Não se trata de um caminho fácil, afinal, vencer quando ambos estão lutando é uma tarefa difícil, mas e quando apenas um se esforça? Então ele percebe que não está sozinho e, aliás, conta com uma força que é maior do que ele mesmo poderia imaginar: Deus!


Assim, não há nada impossível, mesmo que duvide, mesmo que desanime e não seja capaz de esperar com fé e paciência. Espere surpresas, fortes emoções e uma lição que toca casados, solteiros, divorciados, crentes e descrentes. Um milagre em forma de filme!
Play!

Julie e Julia




Cada vez mais, o cinema mundial tem incorporado histórias reais e transformado-as em obras primas. Somente no ano passado, a lista inclui clássicos como Preciosa e Sonhos Possíveis, que em breve comentarei. Nesta semana, me ocupo de uma comédia literalmente deliciosa: Julie e Julia, estrelado por Meryl Streep.

O filme narra a trajetória de Julia Child e Julie Powell e de como suas vidas se cruzaram de forma inusitada, através da culinária. A primeira cena mostra Julia, no final dos anos 40, degustando um peixe, sua primeira refeição ao desembarcar na França. É aí que começa sua aventura com pratos, especiarias, pois até então esta americana mal sabia fritar um ovo.
Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, décadas depois, Julie (interpretada por Amy Adams) enfrenta os dramas de uma vida pacata, com um emprego monótono, embora não possa reclamar do marido, que, inclusive é quem apresenta a ela uma interessante saída: Ela sempre gostara de escrever, embora nunca tivesse terminado algo. Então, por que não escrever sobre o livro de outra pessoa?

Com o livro de Julia sobre o colo, o desafio estava lançado. Ela teria um ano, ou seja, 365 dias, para fazer as 524 receitas do livro e escrever sobre a experiência num blog batizado de Julie/Julia Project - na vida real inaugurado em 2003.

Escrito e dirigido por Nora Ephron, o mérito do filme está nas vidas entrelaçadas das personagens. Não se conhecem, vivem culturas distintas, épocas diferentes, mas principalmente Julie tem a vida modificada pelo livro. O filme intercala a vida de Julia, na França, a descoberta do que ela realmente gostava de fazer na vida, comer e cozinhar e os percalços iniciais até chegar ao sucesso do blog de Julie, nos Estados Unidos.

Para transformar em filme, a diretora utilizou as histórias de dois livros: A parte de Julia foi inspirada no livro de memórias My Life in France e a de Julie no livro Julie & Julia, que começou como o blog, que logo acumulava milhares de fãs, inclusive de editoras americanas, que resolveram publicar a história.

Engraçadíssimo, o filme não atrai um público específico, como poderia parecer. De donas de casa a marmanjos, é provável que todos se empolguem com a narrativa.

Aliás, a atuação de Meryl Streep, como não poderia deixar de ser, nos convence em todos os sentidos. Se procurarmos no Youtube, é possível assistir alguns episódios de The French Chef, programa de culinária da década de 60 apresentado pela Julia Child real, e então estabelecer um comparativo entre a realidade e a ficção, ou seja, entre Julia e Meryl.

Vale a pena assistir... Dá água na boca! Play e ótimo filme!