Lá estava ele com seu carrinho “pro gasto”, que andava, em todo caso, quando um homem lhe pediu a vaga no estacionamento. O homem e o sonho de consumo de meio mundo: uma Ferrari. “Sim, pode estacionar, mas me responda duas perguntas: O que você faz? E como você faz?”, indaga o protagonista, dono de uma inconfundível vida de “azarado”, como costumamos dizer. O dono da Ferrari disse que era corretor da Bolsa de Valores. “Precisa de faculdade?”, pergunta, ainda, o azarado. Não, o único requisito é saber fazer contas.
Surge aí um obstinado “Á procura da felicidade”. Levante a mão aí quem não está, constantemente, em busca de dias melhores. Parece desnecessário assistir um filme assim sabendo que nossa vida é a própria procura. Mais ainda pensando que por mais que sigamos a risca o caminho do outro, é improvável chegarmos ao mesmo lugar.
No entanto, o filme é muito mais do que podemos pressupor pelo título. Se o telefone foi cortado, a mulher da loja de roupas já ligou, cobrando uma conta, e você já está pensando em se mudar para um apartamento menor, pense bem antes de reclamar ao papai do céu.
Chris Gardner, interpretado por Will Smith, é a prova viva que a Lei de Murphy pode ser pior do que foi para qualquer um de nós. Tudo o que poderia dar errado em sua vida, deu. Perdeu a esposa, a casa, o carro e suas economias em um investimento furado em scanners ósseos. Tudo? Quase. As únicas coisas que nunca perdeu foram o filho e a esperança de trabalhar na Bolsa e comprar uma Ferrari.
Felizmente, há outro ditado que diz que no fim tudo dá certo...e não é porque é cinema e esperamos um final feliz, invariavelmente. Chris Gardner tem um livro e até uma participação no filme, que comprovam que de fato ele existe. Enquanto olhava para a Ferrari, ele era todos, o corretor a exceção. Alguns anos depois, ele era a própria exceção. O livro escrito por Chris, “The pursuit of happyness”, foi adaptado pelo diretor italiano Grabrielle Muccino, e o nome não vem da busca, propriamente, mas traduz um dos artigos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, escrita por Thomas Jefferson. Nele, Jefferson diz que todos têm direito à procura da felicidade. O Happyness também é escrito com “y”, quando o correto seria “happiness”, com “i”. A troca remete à felicidade cujo acesso chega distorcido não apenas gramaticalmente, mas também semanticamente, àqueles cujas oportunidades são restringidas pelas condições sociais. Jefferson, na Declaração, ainda cita outra frase na qual diz que acredita muito na sorte, mas quanto mais duro ele trabalha, mais a tem.
Enquanto, incansáveis, muitos preenchem bilhetes de loteria, outros cavam com afinco o local onde colocarão os pilares da construção de suas vidas. A história se passa na década de 80 e na época realmente a universidade era quase utopia. Hoje, porém, a chance, sem ela, é quase como jogar na Mega Sena. E ainda assim o diploma é apenas um papel, que se consome em segundos, como uma palha em chamas, se não buscarmos oportunidades, obstinados.
Com 25 dólares no bolso, pouco mais de cinqüenta reais, o protagonista, que a esta altura dormia em estações de metrô e abrigos para mendigos, poderia ter comprado alguns litros de bebida e se transformado em um alcoólatra, a exemplo do pai e de muitos outros na mesma situação. Porém, ele transformou o valor em 600 milhões de dólares, sem titubear ou deixar de dar um beijo de boa noite ao filho, com todo o amor do mundo, embora o estômago estivesse vazio.
É claro que não devemos nos tornar escravos do tênis, da calça jeans, da Ferrari... Mas obstinados em realizar nossos sonhos, sem desistir no meio do caminho, reclamando do escuro, do frio, da pedra pontiaguda, da multa de trânsito, do governo. Além disso, tecnicamente, Will Smith prova que não serve só para comédias, e seu filho, Jaden Smith, que interpreta o filho também no filme, mostra que não serve somente para ser um leão numa peça escolar – sua maior atuação antes deste papel.
Resumindo. O filme é um drama. De fazer chorar em bicas. No entanto, é fantástico, desses de deixar na estante e assistir quando a Lei de Murphy bater na porta. Trata-se de uma lição de moral, literalmente. Na pior das situações, o protagonista não esquece seus valores. Prova que a integridade não depende do saldo bancário e nem a falta de dinheiro forma bandidos. Não precisamos de 600 milhões de dólares. Isto Gardner deixa bem claro. A lição é humana. Tão terna quanto um abraço de pai. Somos envolvidos pelos braços do herói e por fim nos sentimos seguros, protegidos, na nossa constante busca da felicidade... Play! Bom Filme!
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