
A cabeça ou qualquer lugar do corpo dói um pouco mais do que o normal e vamos ao médico para que ele num passe de mágica resolva nosso problema. A figura do “doutor” é quase um super-homem diante da doença, principalmente as corriqueiras. Saímos do consultório com um monte de nomes indecifráveis, mas que, felizes, esperamos ser sinônimo de cura. E na nossa cultura saúde=medicamento é provável que se a receita fosse apenas “repouso” saíssemos falando que ele comprou o diploma.
Isto é tão normal que nunca paramos sequer para pensar: Quanto vale realmente a vida humana para a indústria farmacêutica? Esta é a reflexão do filme O jardineiro fiel, um manual de instruções a todos nós, culturalmente instruídos para ingerir cápsulas de “salvação”.
Para a maioria dos grandes laboratórios farmacêuticos, desenvolver e comercializar uma droga capaz de combater doenças com grande ocorrência pode gerar fortunas incalculáveis, bilhões de dólares. Infelizmente, é mais comum do que pensamos que cheguem até nós remédios que não foram suficientemente testados e cujas conseqüências a curto e longo prazo são imprevisíveis.
Foi isto que constatou Tessa Quayle, esposa de um diplomata britânico que trabalhava no Quênia. Ela decidiu investigar os procedimentos de uma companhia que estava testando um remédio contra a tuberculose na população, suspeitando de que os habitantes mais miseráveis do país estivessem servindo como cobaias de um experimento sem a menor segurança.
Com a ajuda do médico Arnold Bluhm ela trava uma verdadeira batalha para provar a culpa do laboratório ao governo britânico. A história é real e transformou-se também em livro escrito por John Lê Carré. Foi o livro que deu origem ao roteiro, cujo desfecho é quase esperado. Tanto que o fim é o início do filme – um assassinato brutal. E a partir dele o relato de todo o esforço de Tessa para provar a denúncia, e do marido para vingar o assassinato.
Só por isto você já deveria assistir ao filme, mas ainda há outro argumento: a direção é do brasileiro Fernando Meirelles, que transforma o filme em uma super produção, sem minimamente apelar para o Cinema do primeiro mundo, que costuma maquiar até mesmo a mais brutal das realidades.
O jardineiro fiel consegue ser uma ótima produção, aliando boas imagens e responsabilidade social. Não que todos os remédios e laboratórios sejam uma fraude, muito pelo contrário. A vida de muitas pessoas depende de remédios que realmente são eficazes, e ninguém discute que uma aspirina é um santo remédio nos dias em que nossa cabeça parece querer explodir. Porém, é preciso tomar cuidado com os excessos e procurar profissionais de confiança, que trabalham com isso e sabem as “contra-indicações” de cada produto.
Os riscos foram reduzidos e a maior parte dos países, inclusive o Brasil, adotou leis rígidas para a condução dos testes para menor risco ao paciente. Porém, sabemos que, por exemplo, o Brasil tem uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo e mesmo assim é o maior devastador de florestas do planeta. As leis pouco ou nada valem diante de fiscalização insuficiente e, principalmente, da corrupção. É preciso estar atento e não se calar diante de qualquer suspeita.
Ah, e também dar um beijo estalado no médico ou farmacêutico quando ele receitar apenas algumas noites de sono e muita água.
Ok, retire o beijo estalado... um sorriso feliz está de bom tamanho. Mas feliz, hein.
Play. Bom filme!