
Maria Alvarez é uma jovem colombiana que trabalha arrancando espinhos de rosas que serão exportadas por seu patrão, miserável e mesquinho.
Ela divide uma casa com a mãe, a irmã e o sobrinho bebê e vive de forma difícil e humilde, com poucas ou nenhuma perspectiva de um futuro melhor. Para piorar, descobre estar grávida do namorado (cuja situação financeira é ainda pior, já que mora com dez parentes).
Assim, a garota percebe que sua vida se tornará ainda mais complicada e é então que alguém lhe oferece uma pequena fortuna caso ela aceite trabalhar como "mula", ou seja, contrabandear drogas utilizando, como esconderijo, o próprio aparelho digestivo. É assim que começa "Maria Cheia de Graça", um filme de muita sensibilidade e que retrata o cotidiano difícil de milhares de pessoas, que podem ser eu ou você.
Aliás, esta é uma das grandes forças da produção: na maior parte do tempo, os personagens se comportam e conversam como pessoas reais que enfrentam situações morais complexas. E, no caso específico da protagonista, a questão-chave é: ela pode se dar ao luxo de ser escolher?
Para Maria, esta não é uma decisão que envolve princípios, mas necessidades. Buscando sempre a autenticidade, o diretor dedica um bom tempo do filme ao objetivo de retratar cada detalhe da atividade de "mula", desde o processo de preparação dos pequenos sacos com droga até a "liberação" do material do outro lado da fronteira, passando até mesmo pela dificuldade em engolir os mais de 60 pacotinhos que vai ser transportado no estômago. E o mais assustador: será que os pacotes não vão estourar, assim que chegarem ao estômago? Se isso acontecer, ela imediatamente morre por overdose.
A viagem também é cheia de tensões, longa, dramática. Com a possibilidade de morrer ou apenas ser descoberta, o que não daria cadeia aos traficantes, responsáveis pela droga, mas à Maria e as dezenas de jovens que se submetem ao trabalho, a maioria por necessidade.
O elenco inteiro é louvável, com uma brilhate atuação. Porém, quem se destaca é Maria, vivida por Catalina Sandino Moreno, que fez sua estreia no filme. Ela é uma daquelas atrizes que prendem o olhar do espectador, que percebe o sutil trabalho de construção da personagem, a ponto de nos fazer acreditar que ele existe, é real. Muitos outros momentos poderiam ser citados, mas Maria Cheia de Graça traz uma lição de vida. Reclamamos tanto e temos tudo. É preciso tão pouco para ser feliz... No entanto, precisamos de tantas coisas, principalmente materiais, para estarmos contentes. Ainda assim, querendo mais... Dinheiro, fama, poder, enquanto o mundo padece de carinho, de cuidado, de doenças que nem o homem mais rico do mundo pode escapar.
Esta semana, tire um tempinho para pensar nas coisas que te fazem realmente feliz e busque-as. Tente, sobretudo, ser mais sensível, mais humano, mais amoroso com sua família, com a mesma dedicação com que trabalha para ter. Maria nos inspira a sermos melhores! Play e ótimo filme!